Os editais da Eletrobrás e de Furnas que informavam quais os critérios para a concessão de patrocínio cultural deixaram os artistas e produtores culturais em pé de guerra contra o governo Lula, que, paradoxalmente, tem sido apoiado por eles há longos anos. E com razão: era manifesta em tais editais a ingerência político-ideológica sobre a produção artística, que por princípio tem de ser absolutamente livre.
Vejamos quais os critérios neles estabelecidos: qualificação da entidade que propõe, fortalecimento da imagem do patrocinador, valorização das tradições e identidade nacionais, contribuição para a descentralização e interiorização da cultura, democratização do acesso à cultura e inclusão social de comunidade de baixa renda, com geração de emprego, renda e ocupação social (ufa!). Só o grau de subjetividade de tais critérios seriam suficientes para desqualificá-los como, pelo menos, razoáveis. Mas, tem mais: o autor (ou autores) dessas regras desconhece inteiramente o processo de criação de uma obra de arte ou de um bem cultural, que resulta fundamentalmente da conjunção do talento individual com a liberdade de exercê-lo.
Como se isso fosse pouco, engana-se quem pensa que essas diretrizes emanaram do gabinete do figurativo ministro da Cultura, Gilberto Gil. Sabe-se agora que elas foram geradas no nicho publicitário do governo, mais precisamente pelo secretário de Comunicação, Luiz Gushiken, antigo ativista e dirigente sindical bancário.
Tão ou mais absurdas que essas exigências catalogadas pela paródia desse “realismo socialista” são as “contrapartidas sociais” exigidas, supostamente compensatórias da generosidade do Estado-benfeitor. Algumas delas: acesso gratuito ou a preço populares para os espetáculos contemplados com incentivos fiscais, se o público-alvo for de portadores de deficiências, de doenças crônicas graves, idosos, estudantes de escolas públicas e de comunidades de baixa renda e mais o compromisso de gerar trabalho nessas comunidades. E não ficam apenas nesses enunciados o catálogo jdanovistados nossos xiitas do PT.
Patrulhagem ideológica como essa não se viu nem no regime militar, dizem os cineastas brasileiros. Felizmente o presidente Lula acordou a tempo e teria ordenado a cessação imediata dessa perigosa insânia. Evita, assim, para o bem de sua biografia, entrar na História pela porta dos fundos.
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