Um profissional com diploma universitário entrou na fila de mais de oito mil pessoas que, nesta quinta-feira (16), se inscreveram para tentar uma das 120 vagas de emprego em Mauá, no ABC. A prefeitura da cidade oferece salário entre R$ 834,99 e R$ 944,99 para merendeira, recepcionista e agente administrativo. Durante todo o dia, uma fila de três quilômetros deu a volta no prédio.
O concurso atraiu Francisco Gaddini, de 48 anos. Ele é formado em administração de empresas e há nove meses foi demitido de uma gráfica depois de quatro anos de trabalho. A fila quilométrica foi o meio que encontrou para tentar voltar ao mercado. "Na realidade, eu venho para ganhar um terço do eu ganhava, mas é melhor do que ficar parado. E vou conseguir, se Deus quiser."
Na luta por um lugar ao sol, também havia desempregados de longa data e vítimas da crise recente. Lucineide Silva de Miranda foi demitida em novembro de uma empresa que prestava serviços para a indústria automotiva. "Quando eu fiz a minha demissão foram mais ou menos uns 300 de uma vez só", afirma.
Maria Isabel Carvalho Silva, mãe solteira de três filhos, só estudou até a sétima série. A catadora de papel tentava inaugurar a carteira de trabalho. "O meu sonho é trabalhar registrada para poder dar um futuro melhor para os meus filhos."
A procura foi tão grande que, seis horas depois do início do atendimento, não parava de chegar gente. Na turma do fim da fila, a auxiliar de produção Tatiane Ribeiro corre contra o tempo, sufocada pelas dívidas.
"Três filhos, desempregada, com dois bebês de colo de um ano e mais uma de seis anos e pagando aluguel. A dona pediu a casa, então eu tenho que encarar. Não tem outra opção." Débora Pereira promete se esforçar para a prova que será realizada na próxima terça-feira. "Agora é só torcer e rezar para dar certo."