O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) anunciou que vai propor nesta terça-feira aos senadores favoráveis ao afastamento de José Sarney (PMDB-AP) na presidência do Senado, a abertura de processo disciplinar contra Sarney no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar. "Vou levar essa proposta aos senadores. Eu não quero solitariamente apresentar a proposta. Acho que deve ser apresentada por um número maior de senadores".
De acordo com Cristovam, Sarney feriu o decoro parlamentar ao se reunir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a portas fechadas para fazer um acordo de apoio a ele em troca do apoio do PMDB à candidatura do governo à Presidência da República no ano que vem. "Eu estou muito preocupado é com a desmoralização do Congresso, por causa do acordo em que o presidente da República passou a ser o tutor do presidente Sarney".
Cristovam Buarque afirmou que o problema é que a República, que se sustenta por causa dos Três Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), "não tem mais os Três Poderes independentes. O Senado foi transformado em um ministério do governo Lula. Isso é que é a maior de todas as tragédias".
O problema, segundo o senador, não é do presidente Lula, embora Cristovam tenha afirmado que o presidente mostra total desconsideração ao Congresso Nacional. "Creio que o presidente Sarney feriu o decoro parlamentar. A responsabilidade primeira do presidente do Senado é zelar pela independência do Senado em relação ao Poder Executivo. Ele feriu isso quando se reuniu a portas fechadas, no qual sequer foram permitidas fotografias, como se fosse uma coisa escondida e um dissesse: eu lhe dou o Senado, o outro dissesse: eu lhe dou o PT. Isso é uma desmoralização ao sistema republicano", concluiu Buarque.
Sarney tem sido acusado de uma série de irregularidades, sendo a principal delas o envolvimento nos atos secretos do Senado, que foram usados para nomear parentes e aliados em gabinetes de senadores. DEM, PSDB e PDT já pediram publicamente o afastamento de Sarney. PT e PMDB apoiam sua permanência. O líder petista, Aloisio Mercadante (SP), chegou a anunciar que o partido apoiaria o afastamento, porém a sigla recuou após uma reunião com Sarney.