Enquanto o governo explica que a causa do apagão em 18 Estados entre a noite de terça e a madrugada de quarta-feira foi um curto-circuito - causado por raios - em três linhas que ligam Furnas a Itaipu, na região de Itaberá (SP), para a professora Maria Cristina Tavares, raios podem ter derrubado uma das linhas de transmissão, mas não derrubariam as três. Para a especialista do departamento de Sistemas e Controles de Energia da Unicamp, só uma falha de proteção do sistema poderia explicar o apagão.
Linhas alternadas
A energia sai de Itaipu para Itaberá em três linhas alternadas. Se uma tem problema, as outras duas devem continuar o serviço e carregar a potência da linha atingida, já que o sistema é preparado para operar mesmo com a perda de um elemento. Segundo Maria Cristina, a queda das outras duas linhas em sequência é o indício de que houve um imprevisto.
Quando a segunda linha também apresenta problema, os operadores devem cortar a carga de alguma região, deixando uma determinada área isolada, sem energia elétrica. No entanto, isso não ocorreu e o País perdeu as três linhas de transmissão.
"Não poderia ter havido blecaute na extensão que houve. Deveria ter se restringido a São Paulo e não ir para a corrente contínua. Nosso sistema é interligado. Como variou muito, perdeu as ligações." Segundo ela, houve muita demora para interromper a conexão e fazer o ilhamento (retalhar o sistema e trabalhar como se fosse houve vários sistema isolados).
Sistema forte
Maria Cristina nega que o sistema brasileiro seja frágil e sujeito a esse tipo de apagão. Para ela, o motivo foi algo pontual, já que tempestades não costumam interferir no fornecimento de energia. Entretanto, defende que é preciso entender o que houve para não repetir o erro.
Investimentos
O Brasil está no caminhando certo, segundo a especialista, investindo em novas linhas de transmissão e em novas usinas para acompanhar o crescimento da demanda. Como o País é rico recursos hídricos, as usinas não agridem tanto o meio ambiente e a energia é mais barato, para a professora, esse é o método ideal.
Atualmente, há grandes empreendimentos na região Norte, como o Complexo Hidrelétrico do rio Madeira, formado pelas usinas de Santo Antônio e Jirau, que deverá entrar em funcionamento em 2013 e gerar 6,3 mil megawatts de energia. Já a Hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, terá potência de 11 mil megawatts e será a terceira maior hidrelétrica do mundo. Na última quinta-feira, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, informou que o Ministério do Meio Ambiente emitirá na próxima segunda-feira a licença prévia para a construção de Belo Monte.
Grande caixa d'água
A extensa rede de transmissão de energia brasileira não é um problema na opinião da professora. Como há muita energia a ser distribuída, isso acaba facilitando o processo. Quando reservatórios do Sudeste estão mais baixos, por exemplo, os do Sul dão apoio ao fornecimento de luz para a outra região, explica. "É como se tivéssemos grandes caixas d'água uma apoiando a outra."
Maria Cristina reconhece que não é fácil fazer esse sistema funcionar corretamente, mas que os técnicos têm condições de superar essas grandes distâncias. O sistema é estudado permanentemente, e os profissionais da área fazem simulações o tempo todo para garantir que tudo funcione integradamente.