Tão grave quanto o apagão que atingiu o país esta semana foi a fuga espetacular de cena da ministra Dilma Rousseff. A “dama do apagão” tentou passar aos brasileiros a impressão de que nada tinha a ver com a barbeiragem que deixou 60 milhões de lares sem energia elétrica, afetando hospitais, indústria, comércio, metrô. Dilma foi ministra de Minas e Energia no início do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Comandou o aparelhamento do setor com mão de ferro, mesmo fazendo concessões ao aliado maior, o PMDB. Sair do Ministério de Minas e Energia para substituir José Dirceu na Casa Civil, no auge do escândalo do mensalão, não reduziu a força da “dama do apagão” na área de energia. A ministra manteve um poder descomunal em todo o governo, o que explica não apenas o apagão, mas o fracasso contundente do governo no seu principal programa, o PAC, do qual ela é a “mãe”, segundo o presidente da República.
O apagão de energia elétrica é apenas parte do apagão geral que assola o país. Brasileiros, ao longo destes sete anos, testemunhamos a deterioração de rodovias, o apagão aéreo, a crise na saúde, na educação, a insegurança crescente... Pois a ministra aproveitou a escuridão que cobriu o Brasil e sumiu. O ministro de Minas e Energia foi exposto ao ridículo, ao tentar explicar o apagão. Não é a praia dele. Se a ministra responsável não é do ramo, imaginem o senador Edison Lobão.
O líder do governo na Câmara, o petista Henrique Fontana, cometeu o acinte de declarar que a ministra estava tratando de outros assuntos, como uma viagem ao exterior. Para o governo Lula, o apagão que afetou a vida de 60 milhões de famílias não tem a importância de uma viagem.
As cobranças que fizemos ao governo, inclusive através de uma nota oficial do Democratas, para que a responsável pelo apagão viesse a público surtiram efeito.
Mas, com a arrogância habitual, partiu para a agressão à imprensa e afrontou o dicionário, ao dizer que “blecaute” não é apagão. E, depois de sete anos com todos os poderes para resolver problemas de gestões anteriores, direcionou as baterias contra o governo passado. Como se erros passados justificassem as barbeiragens de hoje.
Segundo o mestre Houaiss, blecaute significa apagar ou ocultar todas as luzes de uma área; interrupção noturna no fornecimento de eletricidade que gera obscurecimento total de uma área.
À ministra falta não apenas conhecimento do setor elétrico, mas igualmente da língua. Se exibisse a mesma competência com que destila arrogância contra auxiliares “companheiros” e a imprensa, em relação ao setor elétrico, o país não teria passado pelo maior apagão da história.
Em 1999 o país sofreu um apagão. O governo então convocou engenheiros brasileiros e estrangeiros para estudar as razões e apontar saídas para que o problema não se repetisse. Exatos dez anos depois o Brasil apaga. Governantes de plantão, sem a humildade dos sábios, atribuíram imediatamente a culpa a um improvável raio. Tese logo desqualificada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). As razões para o apagão são largamente conhecidas pelos especialistas. Má gestão do sistema. O que não é de estranhar. O aparelhamento desastroso da máquina pública não poderia suportar algo tão complexo quanto um sistema elétrico construído ao longo de décadas por profissionais sérios e competentes e hoje sob a inconseqüente batuta da “dama do apagão”.
O país paga hoje o preço da imprudência. Não se pode entregar algo tão sensível e definitivo para a afirmação do país à demagogia e inconseqüência de uma senhora despreparada. O equívoco do presidente da República é irreparável. O apagão provocado por Dilma Rousseff não afeta apenas os brasileiros nesse momento, mas assusta investidores internos e externos, pondo em risco o crescimento do país que passa necessariamente por um fornecimento seguro e garantido de energia elétrica.
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