A E.M. José Júlio Martins Baptista, Bairro Sítio do Campo, realizou na manhã desta quinta-feira (19) diversas atividades em comemoração ao Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro (ponto facultativo no Município). Estudantes e funcionárias usavam vestimentas africanas e pratos típicos, como feijoada, canjica e cuscuz, foram apresentados e servidos no local.
Além disso, a unidade escolar estava enfeitada com máscaras africanas, bonecas cônicas e fotos de alunos negros foram expostas. Tudo muito colorido e um clima alegre e descontraído para valorizar a cultura afro-brasileira, fruto de uma pesquisa feita pelos alunos para a realização do evento.
Houve uma apresentação de Capoeira e Maculelê por parte de um grupo de alunos do projeto SuperEscola, da Secretaria de Educação de Praia Grande, orientados pelo professor Anderson da Silva Ferreira, conhecido como Papagaio, que falou um pouco sobre a história da Capoeira e desmistificou alguns pontos.
“O atabaque, por exemplo, que muitos pensam ser uma peça usada para fins religiosos, na verdade tem origem árabe, levada para a África pelos povos árabes que migraram para lá e depois incorporada pelos africanos”, disse Ferreira. Também houve apresentação de Rap.
A diretora da unidade, Luciana Rocha Muniz da Cunha, disse que a cultura negra deve ser ainda mais valorizada pela sociedade. “Grande parte do Brasil é formado por negros e seus descendentes. Temos que valorizar essa cultura, que também é nossa. Nosso objetivo é acabar com os preconceitos”.
A jornalista e professora universitária, Benalva da Silva Vitório, conversou com os alunos sobre a cultura africana e abordou o tema Dia da Consciência Negra de forma questionadora. Ao indagar aos alunos sobre o significado da data, Benalva afirmou que não seria apenas a alusão ao líder Zumbi dos Palmares, mas sim um dia em que se deve celebrar o conhecimento.
“Devemos valorizar a escola, a cultura. No dia em que nós nos conhecermos, nós mudaremos muitos dados e conceitos da História. Ao invés de comemorarmos o Dia da Consciência Negra, iremos comemorar o Dia do Conhecimento do Brasileiro, que é todo dia”, disse Benalva, que leciona na UniSantos (Universidade Católica de Santos) e coordena a Universidade da Terceira Idade na mesma instituição.
Benalva também ressaltou sua experiência de vida nos cinco anos em que viveu em Moçambique (país africano, ex-colônia de Portugal). “Meu avô era escravo. Veio da África em navio negreiro. E um dia pensei em retornar para lá para conhecer a realidade africana. Fui para Moçambique e lá conheci um povo sofrido com as guerras, mas alegre e feliz, que canta e dança enquanto trabalha duro”, disse a professora.
A aluna Beatriz Silva Oliveira, 13 anos, disse que o projeto foi muito importante para que eles pudessem descobrir as próprias origens. “Foi muito bom conhecermos mais sobre a África e sua influência sobre nós, como a Capoeira, música e cor da pele. Assim valorizamos ainda mais nossas origens”.
A estudante Uliane Nascimento Tinoco, 16 anos, confidenciou que sofria muito com a discriminação e preconceito. Hoje, após a pesquisa, ela afirma que se sente feliz como é e passou a valorizar a cultura afro-brasileira.
“Antigamente sofria muito quando me ofendiam. Eu chorava e me sentia humilhada em ser negra. Mas agora com tudo isso, eu aprendi que ser negra não é um defeito. Não é problema. Eu gosto da minha cor e achei tudo muito lindo hoje na escola, como as danças e roupas africanas”, afirmou Uliane.
Os estudantes também apresentaram trabalhos que retratam a influência de palavras de origem africana no nosso vocabulário; máscaras e lanças; comidas típicas africanas; personagens e mitos.
Data
O 20 de novembro foi escolhido porque neste dia, em 1695, foi a data em que morreu Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares. A data serve como um momento de conscientização e reflexão sobre a importância da cultura e do povo africano na formação da cultura nacional. Esta data foi estabelecida nacionalmente pelo projeto de lei número 10.639, no dia 9 de janeiro de 2003.
Os negros africanos colaboraram muito, durante a história, nos aspectos políticos, sociais, gastronômicos e religiosos do país. A abolição da escravatura, de forma oficial, só veio em 1888. Porém, os negros sempre resistiram e lutaram contra a opressão e as injustiças advindas da escravidão.
Alguns historiadores afirmam que sempre ocorreu uma valorização dos personagens históricos de cor branca. Como se a história do Brasil tivesse sido construída somente pelos europeus e seus descendentes. Imperadores, navegadores, bandeirantes, líderes militares, entre outros, foram sempre considerados heróis nacionais.
Agora há a valorização de um líder negro na história do Brasil. Nas escolas já é obrigatória a inclusão de disciplinas e conteúdos que visam estudar a história da África e a cultura afro-brasileira.