Nas eleições de hoje (13), a disputa pela sucessão da presidente do Chile, Michelle Bachelet, é marcada por um intenso debate sobre questões políticas e sociais. Mas a divisão da coligação de esquerda, a Concertación, gerou o surgimento de dois candidatos autônomos e dificuldades para o nome oficial da aliança o ex-presidente Eduardo Frei Ruiz, filho de Eduardo Frei Montalva (1964-1970) cuja suspeitas de ter sido assassinado por envenenamento vieram à tona nesta semana.
Nos últimos dias, Frei tentou colar sua imagem à de Bachelet no esforço de atrair votos. Apelou para o apoio dos ex-presidentes do partido, obteve garantias dos prefeitos das principais cidades que eles o ajudarão em um eventual segundo turno e provocou uma discussão sobre a revisão da Lei de Anistia tema delicado e caro para os chilenos que viveram sob forte ditadura por 17 anos.
Frei foi presidente no período 1994 a 2000 e deixou o governo com baixa popularidade. A escolha de seu nome como candidato da Concertación envolve uma série de polêmicas e não obteve consenso. Foi escolhido, segundo integrantes do partido, por ter um perfil mais de centro do que os demais que se apresentaram à disputa dentro da coligação.
Pelas pesquisas de opinião, Frei está em segundo lugar na corrida presidencial, atrás do empresário e candidato da oposição Miguel Sebastián Piñeira, da coligação Alianza (centro-direita). Em terceiro, está o independente Marco Enriquez-Ominami Gumucio e, por último, Jorge Arrate (da aliança Juntos Podemos Mais), ambos da esquerda.
A política interna chilena é marcada por duas forças políticas: as coligações de centro-esquerda e de centro-direita. Mas um racha na centro-esquerda fez surgir um chamado fator surpresa: o nome do deputado federal Enriquez-Ominami, de 36 anos, que rompeu com a coligação de Bachelet. Segundo analistas, ele é fruto do "voto de protesto" ou como os chilenos batizaram "voto bronca".
Dissidente da coligação Concertación, Ominami chama a atenção pelo discurso direto, a defesa de mais poder do Estado para as áreas de educação, saúde, transporte e habitação. Contrariando a rigidez da sociedade chilena, o candidato é favorável ao debate sobre a legalização da união civil entre pessoas do mesmo sexo e o aborto terapêutico, além de reformas na Constituição.
No entanto, analistas políticos afirmam que os chilenos, em tempos de globalização e apelos econômicos, espelham-se em um empresário bem sucedido, como o caso do Piñera, da coligação Alianza (conservadora). Nas últimas eleições, ele foi derrotado por Bachelet e se apresenta como como um perfil diferente de seus antecessores.
Piñeira não é ligado aos militares, embora conte com o apoio deles, mas fez campanha contra o a ampliação do mandato do ex-presidente e ditador Augusto Pinochet em 1989. É um dos homens mais ricos do país, dono da empresa aérea Lan Chile, da rede de televisão Chile Visión e do time de futebol Colo Colo que foi campeão na última semana ao vencer o Universidade Católica.
Último colocado, segundo as pesquisas recentes de opinião, Arrate é uma espécie de símbolo da esquerda mais tradicional. Ele atrai o eleitorado intelectual, artistas e defensores do socialismo. Fez uma campanha sem recursos, mas ocupou espaço na mídia e ganhou simpatizantes. Anunciou que vai apoiar Frei num segundo turno das eleições.