O líder líbio Muammar Kadafi ameaçou neste sábado atacar alvos "civis e militares" no Mediterrâneo e afirmou que vai abrir os "depósitos de armas" para permitir ao povo defender a Líbia, após a operação militar ocidental contra seu país. Em mensagem à nação, Kadafi afirmou que o Mediterrâneo será transformado em "um campo de batalha" e qualificou os ataques com aviões e mísseis de "agressão injustificada dos cruzados" contra "o povo líbio, que vai lutar".
Segundo o presidente do parlamento líbio, Mohamed Zwei, a operação militar ocidental é uma "agressão bárbara" contra objetivos civis e militares que já feriu "numerosos civis". "As nações ocidentais atacaram vários locais em Trípoli e Misrata, causando graves danos (...). Esta agressão bárbara contra o povo líbio ocorre após anunciarmos um cessar-fogo". "Muitos civis foram feridos nesta agressão, os hospitais estão repletos, as ambulâncias não param", disse Zwei, sem citar números. "Esta agressão não convencerá o povo líbio a se entregar aos bandos armados dirigidos pela Al-Qaeda", concluiu Zwei.
Segundo a TV líbia, "objetivos civis" foram bombardeados nas cidades costeiras de Trípoli, Misrata, Zuara e Benghazi, incluindo o hospital de Bir Osta Miled, 15 km a leste da capital. Em Trípoli, chamas e colunas de fumaça eram visíveis no leste da capital. Estados Unidos e Grã-Bretanha dispararam mais de 110 mísseis de cruzeiro Tomahawk contra a Líbia neste sábado, e a aviação francesa fez diversos ataques contra posições das tropas leais a Kadafi. Os mísseis foram disparados de navios e submarinos e atingiram "mais de 20 alvos", incluindo instalações do sistema integrado de defesa antiaérea e de comunicações estratégicas, todos situados na costa, afirmou o almirante americano William Gortney.
Cindida entre rebeldes e forças de Kadafi, Líbia mergulha em guerra civil
Motivados pela onda de protestos que levaram à queda os longevos presidentes da Tunísia e do Egito, os líbios começaram a sair às ruas das principais cidades do país em meados de fevereiro para contestar o líder Muammar Kadafi, no comando do país desde a revolução de 1969. Entretanto, enquanto os casos tunisiano e egípcio evoluíram e se resolveram principalmente por meio protestos pacíficos, a situação da Líbia tomou contornos bem distintos, beirando uma guerra civil.
Após semanas de violentos confrontos diários em nome do controle de cidades estratégicas, a Líbia se encontrava atualmente dividida entre áreas dominadas pelas forças de Kadafi e redutos da resistência rebeldes. Mais recentemente, no entanto, os revolucionários viram seus grandes avanços a locais como Sirte e o porto petrolífero de Ras Lanuf serem minados no contra-ataque de Kadafi, que retomou áreas no centro da Líbia e se aproxima das portas de Benghazi, a capital da resistência rebelde, no leste líbio.
Essa contra-ofensiva governista mudou a postura da comunidade internacional. Até então adotando medidas mais simbólicas que efetivas, ao Conselho de Segurança da ONU aprovou em 17 de março a determinação de uma zona de exclusão aérea na Líbia. A iminência de uma interferência internacional, muitas vezes requisitada pela resistência rebelde, fez com que Kadafi anunciasse um cessar-fogo, mas confrontos persistem. Mais de mil pessoas morreram, e dezenas de milhares já fugiram do país.
