Quando a inflação oscilava mensalmente entre 30 e 70 por cento, o “Ministro da Inflação” para justificá-las usava argumentos do tipo: foi o preço do chuchu, ou do camarão. Essas oscilações eram sempre muito bem-vindas para quem tinha dinheiro aplicado, e terrível para quem não tinha. Um dia, nesse tempo, eu conversava com Nasrudin a esse respeito e ele, com a maior naturalidade e simplicidade me disse: “É só todo mundo corrigir tudo com o índice que for divulgado e pronto. Você paga todo mundo “corrigido”, recebe de todo mundo “corrigido”, e acabou-se o problema”.
Não respondi nada.
Quando o Collor após “tomar conta” do nosso dinheiro decretou “num decreto” que a inflação era Zero, Nasrudin me falou: “Num disse que era fácil?”.
Não consegui responder nada.
Quando FHC decretou “através de um decreto” que 1 real = 1 dólar, precisei “agüentar” Nasrudin de novo: “Eu num disse que era fácil?
Nasrudin em sua simplicidade e pureza acredita que “as coisas” são assim, fáceis. Mas não são. Quando o Fernandinho (que ia além do mar) viu que não dava mais pra brincar, nós pagamos a diferença que existe entre 1 dólar e 1 real. Os argentinos também estão “sentindo” como é pesado dar um valor grande a um peso pequeno.
Mas, se os donos do poder governassem com a honestidade e integridade que acompanham a simplicidade e a pureza do Nasrudin, com certeza “as coisas” seriam bem mais simples e fáceis. E o que é melhor, seriam decentes.
Sexta-feira fui “iludir minha fé” na lotérica, e encontrei Nasrudin pagando a água. Como estranhei que ele não “apostasse na sorte”, ele me disse: “Para que o governo “criou” essa loteria? Para arrumar mais dinheiro para seus “investimentos” e os “que mais”. Milhões de pessoas perdem dinheiro semanalmente para “de quando em vez” uma deitar pobre e acordar milionária. O milionário aplica todo o dinheiro e vive das “rendas”, não produz nada. O dinheiro fica “rendendo” nos investimentos do governo e nos “que mais”.
Se para ganhar fosse preciso acertar apenas quatro números e não seis, dezenas de pessoas ganhariam todas as semanas. Ganhariam muito menos, mais um “bom pouco”, o suficiente para melhorar muito suas vidas, mas não o suficiente para nunca mais trabalhar.
Esse dinheiro seria aplicado imediatamente em algum tipo de investimento que geraria trabalho e rendimentos para muitos que trabalham, e não apenas para poucos que só aplicam. A vida de centenas de pessoas melhoraria todas as semanas”.
Quando Nasrudin se afastou fiquei pensando que ele tem muita razão, e que, até na loteria os donos do poder “mandam que as coisas sejam assim”: melhor dois ou três milionários por ano, por alguns anos, do que milhares de pessoas “bem de vida”, sempre.
(*) Manuel Castro Lahóz é médico psicoterapeuta cognitivo, escritor, trainer em PNL, MBA (RH) e em Psicopedagogia (drmanuel@terra.com.br)
|