O secretário-executivo do Ministério dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, vai assumir a pasta interinamente, por tempo indeterminado, até que um novo substituto seja nomeado. A decisão foi tomada nesta quarta-feira pela presidente Dilma Rousseff após o pedido de demissão do titular da pasta, Alfredo Nascimento (PR), que não resistiu a denúncias de obras superfaturadas no âmbito do ministério e sobre a evolução patrimonial do filho de Nascimento, Gustavo Morais, em 86.500% num período de seis anos.
Apesar de Passos ser homem de confiança da presidente e também filiado ao PR, a avaliação do partido é de que ele é um gestor mais técnico que político e só deve permanecer como substituto do demissionário em caráter interino. Para parlamentares da sigla, que receberam a garantia da ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti (PT), de que a legenda continua com o controle do ministério, Passos não pode ser considerado como representante da agremiação no primeiro escalão do governo.
De acordo com a Secretaria de Comunicação (Secom) da Presidência da República, Passos esteve reunido hoje com Dilma, mas o assunto da substituição do ministro não foi debatido. A audiência entre ele e a presidente já estava agendada e, de acordo com a Secom, os assuntos tratados foram o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e a Transnordestina.
O mais cotado para substituir Nascimento é o senador Blairo Maggi (PR-MT), que se reuniu nesta tarde com a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, e com secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho. O assunto da reunião entre os três, no entanto, não foi divulgado pela Secom.
Quem é Paulo Passos
Paulo Sérgio de Oliveira Passos vai assumir o comando da pasta pela terceira vez. Nas eleições de 2006 e 2010, Passos ocupou o cargo quando Nascimento concorreu ao governo do Amazonas. Casado com a cantora e compositora Rosa Passos, o novo ministro tem três filhos.
Baiano de Muriti, formado em Economia pela Universidade Federal da Bahia, Passos é servidor público desde 1973, quando começou carreira no Ministério dos Transportes. Ele também passou pelo extinto Ministério do Bem Estar Social e pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Durante o governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) foi secretário-adjunto da Secretaria de Orçamento Federal por seis anos.
A queda do ministro dos Transportes
Uma reportagem da revista Veja do início de julho afirmou que integrantes do Partido da República teriam montado um esquema de superfaturamento de obras e recebimento de propina por meio de empreiteiras dentro do Ministério dos Transportes. O negócio renderia à sigla até 5% do valor dos contratos firmados pelo ministério sob a gestão da estatal Valec e do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit)
O esquema seria comandado pelo secretário-geral do PR, Valdemar Costa Neto. Mesmo sem cargo na estrutura federal, ele lideraria reuniões com empreiteiros e consultorias que participavam de licitações do governo no ramo. Pelo menos dois assessores diretos do então ministro, Alfredo Nascimento (PR), foram afastados dos cargos. Também deixaram suas funções o diretor-geral do Dnit, Luiz Antônio Pagot, e o diretor-presidente da Valec, José Francisco das Neves.
O PR emitiu nota negando a participação no suposto esquema e prometendo ingressar com uma medida judicial contra a revista. Nascimento, que também negou as denúncias de conivência com as irregularidades, abriu uma sindicância interna no ministério e pediu que a Controladoria-Geral da República (CGU) fizesse uma auditoria nos contratos em questão. Assim, a CGU iniciou "um trabalho de análise aprofundada e específica em todas as licitações, contratos e execução de obras que deram origem às denúncias".
Apesar do apoio inicial da presidente Dilma Rousseff, que lhe garantiu o cargo desde que ele desse explicações, a pressão sobre Nascimento aumentou após novas denúncias: o Ministério Público investigava o crescimento patrimonial de 86.500% em seis anos do filho do ministro, Gustavo. Diante de mais acusações, o ministro não resistiu e encaminhou, no dia 6 de julho, seu pedido de demissão à presidente.