
A superioridade foi brasileira durante os 90 minutos. Bruno Cortês se destacou com uma atuação segura na defesa e evolvendo no ataque, a defesa apresentou segurança e Borges apresentou mobilidade apesar de não aparecer muito. Ronaldinho destoou com uma atuação regular. Pela Argentina, as presenças de Bolatti, Guiñazú e Montillo, chamados de última hora para melhorar uma equipe de nível técnico baixo, pouco mudaram o time.
O Brasil conquistou assim o seu oitavo título do confronto, antes chamado de Copa Roca e agora renomeado de Superclássico das Américas. Os brasileiros ficaram com o troféu em 1914, 1922, 1945, 1957, 1960, 1963 e 1976, enquanto a Argentina levou a melhor em três oportunidades (1923, 1939 e 1940).
A festa ficou completa com uma torcida empolgada desde o Hino Nacional, cantado até o final mesmo com a interrupção da música na metade. A cidade ainda confirmou, por meio do placar eletrônico, que receberá a Copa América de 2015 depois de ser preterida entre as sedes da Copa do Mundo de 2014.
Lucas muda cara do Brasil, para o bem e para o mal
O Brasil entrou em campo com quatro mudanças em relação ao jogo em Córdoba, mas uma em especial mudou totalmente a cara da Seleção e do jogo. Lucas foi o jogador mais participativo do primeiro tempo e, ao mesmo tempo em que abusou de jogadas individuais em alguns momentos, em outros criou oportunidades, deu outra movimentação ao time e ajudou o primeiro tempo a ser muito mais agitado do que toda a partida na Argentina.
Ao todo, Lucas tentou seis dribles, acertou quatro e errou dois. Sofreu com faltas não marcadas e criou a melhor chance brasileira, aos 37min, ao passar no meio de dois argentinos e deixar Borges livre para um cruzamento que passou a centímetros do pé de Neymar.
Borges, aliás, parecia um pouco ansioso com a pressão de ser o substituto de Leandro Damião com a camisa 9 verde e amarela. O atacante do Santos, apesar de não contar com a sorte na maioria dos lances brasileiros, até que mantinha boa movimentação no setor ofensivo, mas esbarrava em seu próprio posicionamento em algumas jogadas.
Seu companheiro de clube Neymar, por sua vez, infernizou a defesa argentina. Deu um drible da vaca (meia-lua) em Papa, o mesmo que levou uma lambreta em Leandro Damião em Córdoba, mas foi menos objetivo que Lucas. A cada toque na bola os gritos femininos se sobressaiam no estádio lotado, ainda mais quando aos 12min exigiu boa defesa de Orion.
Com o Brasil mais solto em campo, mas com a Argentina mais firme na marcação, a bola parada surgiu como opção para tirar o zero do placar. Mas Ronaldinho não estava inspirado. Errou três tentativas, duas por muito, e ainda deixou o primeiro tempo com dores na virilha após outro arremate falho, desta vez de fora da área.
Com menos posse de bola do que o rival, a Argentina preocupou-se mais em defender do que em arriscar. Quando aparecia no ataque, explorava o lado direito brasileiro, por onde Danilo mais uma vez esteve inseguro. A melhor chance veio em uma falta alçada na área que terminou com uma cabeçada à direita de Jefferson. Montillo e Guiñazú, chamados apenas para este jogo, pouco apareceram e Canteros teve uma atuação segura e destacada à frente da zaga.
Arrancada de Lucas, firulas de Neymar e show
O Brasil voltou com a mesma postura no segundo tempo e foi para cima da Argentina ainda no início da etapa complementar. Logo no minuto inicial, o lateral-direito Danilo ensaiou "jogada santista" pela direita, ao tabelar com Neymar, passar pela marcação e alçar bola na cabeça de Borges, mas Órion se antecipou e praticou a defesa.
Na sequência, a Seleção manteve o domínio do toque de bola em busca de espaços no setor defensivo argentino, e justamente assim chegou ao gol: após uma linda triangulação que começou no meio de campo. Cortês tocou para Borges, que ajeitou para Danilo dar uma espetacular enfiada de bola para Lucas. O são-paulino correu mais que a zaga, avançou com a bola e bateu com firmeza, no canto direito de Órion.
A partir daí, o Brasil tomou gosto pelo jogo. Neymar rebolava, dava drible da vaca e passava o pé em cima da bola diante de dois ou três marcadores, Ronaldinho arriscava uma finta mais ousada no meio de campo e Bruno Cortês deixava Guiñazu no chão em jogada individual pela lateral. E, dos pés do botafoguense quase a Seleção ampliou, mas ninguém apareceu para desviar seu chute cruzado, aos 18min.
O excesso de firulas do Brasil, aliás, rendeu o primeiro cartão amarelo da partida para a Argentina, aos 25min. Desábato irritou-se com as inúmeras brincadeiras de Neymar com a bola - no lance em questão, por exemplo, o santista pedalou e tentou novo drible da vaca - e deu-lhe um carrinho por trás. Em seguida, ainda reclamou de maneira efusiva com o uruguaio Jorge Larrionda.
O show brasileiro renderia o segundo gol instantes depois. Cortês, que fazia partida excepcional, puxou contra-ataque sozinho, penetrou o sistema defensivo argentino e deu bela enfiada de bola nos pés de Diego Souza. O vascaíno, que tinha acabado de entrar na vaga de Lucas, viu Neymar passar no meio da área por trás da marcação, tocou rasteiro e apenas assistiu ao camisa 11 desviar para o fundo das redes.
A partir daí, Mano mandou Fred a campo, trocou o consagrado Cortês por Kléber e a Seleção só passou a administrar a posse de bola nos minutos finais. Empolgada, a torcida paraense fazia a "ola" e festejava de maneira empolgante no Mangueirão, apenas aguardando o apito final do árbitro que rendeu ao técnico Mano Menezes seu primeiro triunfo diante de um grande centro de futebol do planeta. E, é claro, o título da Copa Roca no Superclássico das Américas.

Ficha técnica
BRASIL 2 x 0 ARGENTINA
Gols
BRASIL:
Lucas, aos 8min, e Neymar, aos 29min do 2º tempo
BRASIL: Jefferson; Danilo, Dedé, Réver e Cortês (Kléber); Ralf, Rômulo, Lucas (Diego Souza) e Ronaldinho; Neymar e Borges (Fred)
Treinador: Mano Menezes
ARGENTINA: Agustin Orión; Christian Cellay, Leandro Desábato, Sebástian Domínguez e Iván Pillud (Mouche); Augusto Fernandéz, Héctor Canteros (Bolatti), Pablo Guiñazu e Emiliano Papa; Montillo e Viatri
Treinador: Alejandro Sabella
Cartões amarelos
BRASIL: Danilo
ARGENTINA: Desábato
Árbitro
Jorge Larrionda (URU)
Local
Estádio do Mangueirão, em Belém (PA)