Após se reunir com a presidente Dilma Rousseff, no início da noite desta sexta-feira, para definir seu futuro no governo, o ministro do Esporte, Orlando Silva (PCdoB), ganhou sobrevida e, ao contrário do que se esperava, não entregou sua carta de demissão à presidente. Ao deixar a reunião, o ministro comentou o encontro: "Manifestei minha revolta e ela (Dilma) me sugeriu serenidade e paciência, muita paciência, e afirmou a confiança que tem no nosso trabalho. É uma condição do nosso partido, que se sentiu ferido diante de tamanhas acusações. São 90 anos de história, mas nós não vamos hesitar em fazer defesa também do nosso partido", disse o ministro.
Durante toda a semana, o ministro enfrentou e rebateu acusações de que ele e o partido ao qual é filiado faziam parte de um esquema de desvio de recursos. "Nós esclarecemos com a presidente Dilma todos os fatos e acusações que tenho sofrido. Desmascarei diante da presidenta todas as mentiras."
Após a reunião, Orlando Silva disse a jornalistas que colocou à disposição a quebra de seus sigilos fiscal, bancário, telefônico e de correspondência, e afirmou querer a "máxima transparência" à investigação. "Me interessa que todos os dados sejam apurados. Informei à presidente que preparo uma resposta detalhada à Comissão de Ética Pública. É inaceitável, para mim, conviver com qualquer tipo de suspeição. A presidente fez recomendações para que continuássemos a trabalhar, cumprindo compromissos do ministério", afirmou.
Na reunião com Dilma, Orlando Silva apresentou um relatório para a presidente contendo todas as matérias que saíram na imprensa a respeito das denúncias. Minutos antes da reunião, o ministro soltou uma nota, onde se defendeu de todas as acusações. Ao longo da semana, Orlando Silva concedeu entrevista coletiva e foi duas vezes ao Congresso para apresentar sua versão dos fatos.
Segundo Orlando Silva, parte da reunião com Dilma também serviu para conversarem sobre temas do Ministério do Esporte, como o desempenho da delegação brasileira nos Jogos Pan Americanos, em Guadalajara (México), e sobre a visita que o presidente da Fifa, Joseph Blatter, fará ao Brasil nos próximos dias.
As acusações contra Orlando Silva
Reportagem da revista Veja de outubro afirmou que o ministro do Esporte, Orlando Silva (PCdoB), lideraria um esquema de corrupção na pasta que pode ter desviado mais de R$ 40 milhões em oito anos. Segundo o delator, o policial militar e militante do partido João Dias Ferreira, organizações não-governamentais (ONGs) recebiam verbas mediante o pagamento de uma taxa que podia chegar a 20% do valor dos convênios. Orlando teria recebido, dentro da garagem do ministério, uma caixa de papelão cheia de cédulas de R$ 50 e R$ 100 provenientes dos desvios que envolveriam o programa Segundo Tempo - iniciativa de promoção de práticas esportivas voltada a jovens expostos a riscos sociais.
João Dias Ferreira foi um dos cinco presos no ano passado pela polícia de Brasília sob acusação de participar dos desvios. Investigações passadas apontavam diversos membros do PCdoB como protagonistas das irregularidades, na época da Operação Shaolin, mas é a primeira vez que o nome do ministro é mencionado por um dos suspeitos. Ferreira, por meio da Associação João Dias de Kung Fu e da Federação Brasiliense de Kung Fu, firmou dois convênios, em 2005 e 2006, com o Ministério do Esporte.
O ministro nega as acusações e afirmou não haver provas contra ele, atribuindo as denúncias a um processo que corre na Justiça. Segundo ele, o ministério exige judicialmente a devolução do dinheiro repassado aos convênios firmados com Ferreira. Ainda conforme Orlando, os convênios vigentes vão expirar em 2012 e não serão renovados.