A decisão dos 23 deputados do PT em São Paulo de votar contra o projeto apresentado pelo governador tucano Geraldo Alckmin, que eleva a alíquota da contribuição previdenciária dos servidores estaduais, foi criticada por aliados da base. Os petistas, no entanto, evitaram críticas diretas e tentaram até mesmo encontrar justificativas para o ato.
O líder do PPS na Câmara, deputado Roberto Freire (PE), chamou o ato dos petistas estaduais de contraditório e equivocado:
— No momento em que o governo do PT propõe no governo a taxação dos servidores inativos, me parece um grave equívoco político. Como o PT pode cobrar coerência dos tucanos com seu passado se petistas no presente estão sendo incoerentes?
Vice-líder do governo na Câmara, o deputado Beto Albuquerque (PSB-RS) afirma que a atitude dos petistas paulistas atrapalha a articulação do governo para a aprovação da reforma previdenciária:
— Isso expõe claramente uma contradição e uma certa incoerência. E tudo isso põe combustível no fogo adversário.
O presidente da Câmara, deputado João Paulo Cunha (PT-SP), minimizou o fato. Para ele, a decisão dos petistas de votar contra o projeto de Alckmin não atrapalha a votação da reforma previdenciária:
— A bancada deve ter tido suas razões, assim como temos as nossas para defender a reforma previdenciária. Mas temos, com o PSDB, uma relação tranqüila. A base para as reformas é mais elástica que a base aliada para outras matérias.
O PSDB usará a reforma da Previdência contra o PT nas próximas eleições, em resposta ao comportamento da bancada estadual paulista. A estratégia dos tucanos é manter o apoio às reformas federais e depois explorar a incoerência política do PT.
— O PT é muito incoerente. Aprovamos a reforma no estado de forma quase unânime, com exceção dos deputados do PT, que recusam aqui o que pedem em Brasília — afirmou Alckmin, que comemorou o placar ontem como o teste mais importante da atual legislatura em seu governo.
Embora não precisasse de nenhum dos 23 votos do PT, o governador ficou chocado com o comportamento da bancada, segundo o secretário-chefe da Casa Civil, Arnaldo Madeira. Os deputados já tinham avisado ao governo sobre a disposição de votar contra, mas Alckmin acreditou num recuo até o momento da votação, segundo Madeira. Para os tucanos, os petistas fizeram "um cavalo de batalha" com o caso, mas isso não colocará a bancada tucana de São Paulo contra a reforma de Lula.
— Vamos continuar (com o apoio às reformas federais), porque a contradição é deles, não nossa. Eles é que estão em crise. E depois, na campanha, vamos mostrar o seguinte: em Brasília eles são a favor da reforma, e em São Paulo são contrários — disse Madeira.
Ontem, o governador deixou para Madeira os ataques ao PT, mas ressaltou a importância de sua reforma. Segundo Alckmin, a alíquota de 11% vai garantir o pagamento de aposentadorias e pensões em São Paulo e evitará que o sistema entre em colapso nos próximos anos. Segundo ele, no ano passado, o Estado arrecadou R$ 1,5 bilhão para a previdência, mas pagou R$ 9 bilhões entre aposentadorias e pensões.
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