Lixo X Lucro

 

Opinião - 24/06/2003 - 10:55:47

 

Lixo X Lucro

 

Orlando Morando (*) .

Foto(s): Divulgação / Arquivo

 

Muito já se falou ou escreveu sobre o lixo. É sabido que o Brasil é um país dado ao  desperdício, onde a cultura da preservação é pouco valorizada. Portanto o lixo gerado, de qualquer natureza, também está dentro deste conceito, ou seja, muito do que não é lixo vai parar no lixo. Segundo alguns dados, no Brasil são geradas 134 mil toneladas/dia, onde 70% desses resíduos não são tratados e vão parar em aterros sanitários a céu aberto. O país perde ainda 85 milhões de toneladas por ano em entulho da construção civil, material reciclável, que daria para pavimentar 3.500 km de estradas. Existe um estudo indicando que de 100% de lixo coletado, 50% são resíduos orgânicos, 25% são resíduos diversos e 25% são resíduos recicláveis. A cidade de São Paulo por exemplo produz 15 mil toneladas/dia de lixo, apenas 0,1% desse montante vai para a reciclagem e seus moradores há dois meses pagam pela coleta do lixo. Em São Bernardo, cidade onde moro, um projeto de reciclagem de lixo bastante adiantado em comparação a outros municípios, feito em parceria entre a administração municipal e  o Instituto Polis, acabou merecendo um prêmio do Unicef, pela retirada das crianças que viviam no Lixão no Alvarenga. Há 4 anos, duas cooperativas de recicladores ( uma de ex-catadores do Lixão e outra de ex-catadores de rua) foram formadas e cerca de 80 famílias vivem da venda do lixo reciclável,  coletados nos Ecopontos  por toda a cidade. Assim mesmo, a coleta seletiva é muito pequena diante do total de lixo coletado, ou seja, falta lixo reciclável para manter em pleno funcionamento os dois centros de reciclagem. Livros, leis, projetos, ações propostas, ações concretas indicam que a reciclagem do lixo é renda, que o lixo dá lucro. Muitas empresas vendem seu lixo, como sucatas e papelão/papel com o objetivo de diminuir custos operacionais. Outras tantas reciclam o lixo em busca da ISO 14000.  O Brasil é o segundo maior reciclador de lata de alumínio. O dado que parece ecologicamente correto só existe por que muitas famílias vivem da coleta de latas de alumínio em quase todo os 8 mil quilômetros de praias da costa brasileira e nos sacos de lixo, inclusive das sofisticadas avenidas brasileiras como a Paulista em São Paulo, a Vieira Souto no Rio e Boa Viagem em Recife, para citar alguns exemplos. E é bom ressaltar que são necessários 66 latinhas para receber R$ 3,00. Apesar do ecologicamente correto, de todos serem a favor da coleta seletiva, da reciclagem do lixo e do entulho,   porque continuamos a ter tanto problema com o lixo? Ou com a falta de lixo para   reciclagem? Por que não explorar melhor o lucro do lixo?   Quando se pensa em lixo, temos um pensamento linear. Usou, joga-se fora. Porém, temos que alterar  essa maneira de pensar por um pensamento circular. Usou, recicla, usa novamente. A política do TRÊS ERRES – Redução, Reciclagem e Reutilização - precisa estar no dia a dia das famílias, das escolas, das empresas. É esse círculo da reciclagem que precisa estar em todas as partes. Mesmo que se possam ver os coletores especiais de material reciclável, onde é possível separar papel, plástico, metal e vidro (os mais  conhecidos) e que tabelas indicando o tempo que vários produtos vão continuar existindo no planeta antes de se desintegrar, o que está sendo feito é muito pouco. Há muito por fazer. E com urgência.  É preciso um programa de educação ambiental, amplo e irrestrito, nas escolas públicas e particulares,  é preciso educar as populações de todas as camadas sociais. É preciso incentivar a reciclagem em vários níveis, desde a doação simples de uma família que vai ajudar hospitais, entidades beneficentes e cooperativas de catadores à venda dos resíduos pelas empresas diminuindo custos operacionais. É necessário que todos entendam que a venda do lixo é geração de renda e de receita. Com orientação, educação e mecanismos que facilitem a reciclagem o lixo dará lucro. Muito lucro. Hoje, do jeito que está, além de lixo, muito dinheiro tem sido jogado no lixo. (*) Orlando Morando é deputado estadual, vice-presidente da comissão de meio-ambiente e relator da comissão especial de tratamento de resíduos sólidos da Assembléia Legislativa paulista e diretor da APAS.

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