Entre as muitas frases sábias de Nelson Rodrigues está a de que “paisagem é verba”. É o que falou a seu amigo Otto Lara Rezende para dizer que tudo custa dinheiro, inclusive a paisagem, mesmo que ela seja ofertada pela natureza. Se paisagem é verba, que dizer então da pesquisa científica. Pois o Institute Scientific Information (IST), ao qual estão indexadas as principais publicações científicas do mundo, está a indicar que a produção brasileira, nesta área, diminuiu.
A forma mais bem aceita para se medir a produção científica de um país é contar os artigos publicados (“papers”) por seus pesquisadores. É impensável, hoje, imaginar que um país possa avançar e melhorar seu estágio de desenvolvimento sem progresso científico e tecnológico. E, infelizmente, neste ponto, o Brasil também não está bem. Faltaria talento e capacidade aos pesquisadores e cientistas brasileiros?
Longe disso. Ao revés, a comunidade científica brasileira, desde Oswaldo Cruz a Cesar Lattes, tem dado seguidas demonstrações de inegável competência e criatividade em vários setores do campo científico e tecnológico. O que ocorre é o insuficiente apoio público e privado para desenvolvê-lo. Em nenhum lugar do mundo se faz ciência e se cria tecnologia sem investimentos expressivos.
Para se ter uma idéia de como as coisas estão, no campus da USP, Ribeirão Preto, 30 bois no pasto que seriam usados em experiências para uma nova vacina para tuberculose, deverão ser vendidos, pois não há mais recursos para mantê-los em condições adequadas. Isso significaria não apenas a interrupção das experiências, mas igualmente implicaria em comprometer ou anular todo o trabalho realizado até aqui. Ou seja, os recursos que já foram investidos para desenvolver novas drogas e vacinas estarão irremediavelmente perdidos e irrecuperáveis.
O nível de investimentos em pesquisas científicas caiu no Brasil: um “paper” estava em torno de R$ 88 mil no ano de 1995 e atualmente está um pouco menos de R$ 50 mil. O Brasil participa com menos de 1% da produção científica mundial e os pesquisadores brasileiros que estão no exterior, e que são muitos e bons, não se sentem estimulados em voltar para o Brasil em razão do quadro desolador em que se encontra a pesquisa científica em nosso país. Calcula-se que não mais de 9 mil pessoas estejam trabalhando em pesquisa no âmbito das empresas nacionais.
Na Coréia do Sul, país com uma população bem menor que a nossa, este número chega a 80 mil. O Brasil não consegue estabelecer uma conexão entre ciência, tecnologia e riqueza. Incrível é que um problema de tamanha relevância e importância seja tratado apenas marginalmente pelos candidatos à presidência da República.
|