O diretor de Óleo e Gás da construtora Galvão Engenharia afirmou em depoimento na tarde desta segunda-feira em Curitiba que aceitou pagar propina ao esquema do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef. Segundo Erton Medeiros Fonseca disse à Polícia Federal, ele entregou o dinheiro após ser extorquido por Costa e Youssef. O dinheiro, segundo o executivo, seria entregue ao Partido Progressista (PP).
A extorsão, segundo Erton, foi feita por meio de ameaças. Costa e Youssef teriam afirmado que, se não fossem atendidos, a Galvão Engenharia seria prejudicada pela Petrobras nos contratos em andamento. Ainda de acordo com o diretor, Fonseca afirmou que já havia sido procurado em 2010 pelo então deputado do PP José Janene, que comandava o esquema de propinas destinado ao partido, segundo ele.Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef teriam assumido o esquema após a morte de Janene, em setembro de 2010.
Sem eu depoimento, o executivo negou que a Galvão tenha formado cartel com outras empresas ou que tenha pago propina para ganhar licitações. Após as declarações, Fonseca se disse disposto a fazer uma acareação com Costa e Youssef.
O advogado de Alberto Youssef, Antonio Augusto Figueiredo Basto, afirmou que ainda não teve acesso ao depoimento de Fonseca e que não iria se manifestar. O advogado de Costa não foi localizado pelo jornal até o fechamento da edição.
Procurado, o presidente nacional do PP, Ciro Nogueira, não retornou as ligações. O secretário-geral nacional do PP, Aldo da Rosa, disse estar no posto há apenas um ano e que não tem informações sobre o assunto.
Delatores "estão longe de ser Madre Teresa", diz advogado
O advogado José Luís Oliveira Lima, que defende o diretor de Óleo e Gás da Galvão Engenharia, Erton Medeiros Fonseca, confirmou nesta terça-feira que seu cliente afirmou, em depoimento à Polícia Federal, que pagou propina ao esquema de corrupção na Petrobras. Fonseca e outros 22 executivos foram presos na última sexta-feira na sétima fase da Operação Lava Jato.
De acordo com Lima, Fonseca entregou o dinheiro – que seria enviado ao Partido Progressista (PP) – depois de ser extorquido pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa e pelo doleiro Alberto Youssef, que chefiavam o esquema e fizeram acordo de delação premiada no processo.
“(Ele foi vítima) de crime de extorsão e de concussão. Foi isso o que o meu cliente, com todas as letras, disse perante a autoridade policial. Ele disse que todos os contratos obtidos pela empresa que ele representa foram obtidos dentro da lei e que, após ele receber esses contratos, após ele ganhar licitamente de maneira correta esses contratos, ele foi procurado e, aí sim, foi vítima de concussão e do crime de extorsão”, afirmou Lima em visita à sede da Polícia Federal em Curitiba, onde estão os presos da Operação Lava Jato.
O advogado disse ainda que Fonseca já aceitou participar de uma eventual acareação com Costa e Youssef e aproveitou para ironizar os delatores. “Ele se coloca à disposição da autoridade policial e de qualquer autoridade para fazer uma acareação com o senhor Paulo Roberto e com o senhor Alberto Youssef, que estão longe de ser a Madre Teresa de Calcutá.”
Questionado sobre o motivo pelo qual Fonseca não denunciou a extorsão, o advogado devolveu com outra pergunta e disse que seu cliente foi ameaçado: “Você coloca 10 mil famílias na rua? A represália é textual, é afirmada. Para você ter um crime de concussão e extorsão há a necessidade de que a pessoa te ameace, que ela faça uma coação, e a coação foi nesse sentido”, afirmou, querendo dizer uma denúncia prejudicaria os 10 mil funcionários da Galvão Engenharia.
Próximos passos
Batizada Juízo Final, a sétima fase da Operação Lava Jato investiga denúncias de crimes cometidos por funcionários de empreiteiras que tinham contratos com a Petrobras.
Dos 23 executivos presos na sétima fase da operação, batizada de Juízo Final, ao menos 18 já foram ouvidos, e a expectativa da Polícia Federal é encerrar hoje essa fase de depoimentos. Isso porque, do total de presos, seis estão em regime de prisão preventiva (30 dias, renováveis pelo mesmo prazo) e 17 estão em prisão temporária, com duração de cinco dias. Como as detenções ocorreram na sexta-feira, o prazo das prisões temporárias acaba à meia-noite desta terça-feira.
A Polícia Federal ainda não informou se tentará renovar as prisões ou transformá-las em preventivas, mas os advogados de alguns presos estão confiantes.
“Os nossos clientes responderam, sem exceção, a todas as perguntas que lhes foram formuladas. Espero que, com isso, possam ter cessada a prisão temporária que recai sobre eles. Todas as perguntas foram respondidas, de foram clara e franca, e por isso nós esperamos que eles sejam, como consequência, colocados em liberdade”, disse o advogado Alberto Toron, que defende funcionários da UTC – o presidente Ricardo Ribeiro Pessoa; o diretor financeiro da UTC Participações Walmir Pinheiro Santana; e o auxiliar Edinaldo Alves da Silva.