A história de amizade começou há 95 anos e deixa marcas econômicas, sociais e culturais em dois países em lados opostos do planeta: Brasil e Japão. Os primeiros 781 imigrantes desembarcaram em Santos, em 1908. Hoje, os quase 1,5 milhão de japoneses e seus descendentes formam no Brasil a maior comunidade nipônica fora do país de origem. De lá para cá, muita coisa mudou, na cara e nas tradições. Para os cerca de 250 mil brasileiros que vivem e trabalham hoje no Japão, há a esperança de voltar para cá, resolver a situação econômica de suas famílias, ou levar os parentes para lá.
Sheila Midori é bisneta de imigrantes e mantém os traços orientais. Gosta da culinária de seu país, mas, se puder escolher, prefere um “cheese bacon burger” a um sushi ou tempurá. “Não mantemos muito as tradições em casa, não sei te responder de qual província do Japão a minha família veio. Sei que eles chegaram por São Paulo lá pelos anos vinte”, diz de maneira vaga.
Mônica Megumi pouco lembra uma japonesa. “Puxei mais à minha mãe, que é capixaba”, diz. Não troca um yakissoba por nenhum prato de feijão com arroz, odeia feijoada e adora missoshiro. Ela se diverte com as lendas japonesas contadas pelo avô, sr. Hideo. “Espero morar no Japão ainda. Quero trabalhar e estudar lá, mas não tenho ilusões. A vida lá é cara e difícil”, diz.
Sheila e Mônica foram duas das 360 mil pessoas que puderam conhecer um pouco mais dessa cultura no VI Festival do Japão, promovido no último fim de semana pela Federação das Associações de Províncias do Japão (Kenren), na Assembléia Legislativa de São Paulo. O estado reúne o maior número de descendentes no Brasil. Segundo censo de 1988, são 887 mil pessoas, 326 mil só na capital.
“O nosso festival é conhecido como o maior evento de cultura japonesa fora do Japão, não apenas pelo número de visitantes, mas, especialmente, porque aqui nós reunimos as mais variadas facetas da cultura japonesa”, explicou o chefe do Serviço Técnico de Cerimonial da Assembléia Legislativa, Carlos Takahashi, membro de honra da comissão organizadora do Festival.
Os visitantes puderam conferir técnicas alçadas à condição de arte por um povo que faz dos rituais seu cotidiano. Além de exposições do ikebana (arranjos florais) e do origami (dobraduras de papel), um artista ensinava a fazer a pipa japonesa, o tako. Vários estandes apresentavam artes desconhecidas para a maioria dos brasileiros, como o shodo (escrita japonesa) e o chado (cerimônia do chá).
As novidades ficaram por conta do primeiro concurso de Miss Festival, vencido pela estudante Caren Uchino, 22 anos, e as apresentações artísticas, que incluíram até demonstrações de artes marciais. As 47 províncias do Japão estiveram representadas no Festival com dança, música e teatro, além de iguarias, conhecidas ou não do público brasileiro, já íntimo dos populares sushi e sashimi.
O festival deste ano teve um crescimento de 20% de público em relação ao de 2002. O evento fará parte do calendário oficial de comemoração dos 450 anos de fundação da cidade de São Paulo, no ano que vem.
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