A investigação, segundo a PF, é um desdobramento da Operação Lava Jato e teve início em novembro de 2015 por determinação do Supremo Tribunal Federal para desmembrar a colaboração premiada de executivos da empresa UTC.
“O inquérito apura o pagamento, pela empreiteira, de dívidas de uma das chapas da campanha de 2012 à prefeitura municipal de São Paulo, referentes a serviços gráficos no valor de R$ 2,6 milhões. A gráfica pertencia a familiares de um ex-deputado estadual (Francisco Carlos de Souza)”, diz nota da PF. De acordo com a investigação, “a dívida teria sido paga por meio de um doleiro, em transferências bancárias e dinheiro vivo, para empresas”.
“Uma empresa mencionada na delação aparece como fornecedora de serviços, com valores informados de R$ 354.450,00. Somente consta na prestação de contas ao TSE [Tribunal Superior Eleitoral] outra prestação de serviços gráficos de R$ 252.900,00, valores bem inferiores à soma de R$ 2.600.000,00, que teria sido paga pela empreiteira UTC a gráficas”, diz ainda a nota.
Trinta policiais federais cumprem nove mandados de busca e apreensão nas cidades de São Paulo, em São Caetano e Praia Grande, na Baixada Santista. Os mandados foram expedidos pela 1ª Zona Eleitoral de São Paulo.
Entenda as investigações
Segundo reportagem da "Folha de S.Paulo", Souza, conhecido como "Chicão" ou "Chico Gordo", é proprietário da gráfica Souza & Souza, alvo de ação na Justiça Eleitoral movida pelo PSDB em processo que investiga a campanha presidencial da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer em 2014. A suspeita é de que a gráfica seja uma empresa de fachada, sem capacidade de produção de material para campanha e emissora de notas frias.
Em depoimento à força-tarefa da Lava Jato, em julho de 2015, o doleiro Alberto Youssef afirmou que realizou repasses para "Chicão" a pedido de Ricardo Pessoa, o acionista da construtora UTC.
Pessoa também fechou acordo de colaboração e confirmou as transferências. O valor, segundo ele, seria descontado da "conta corrente" de propinas devidas ao PT, abastecida com desvios da Petrobras.
Pessoa disse que "Chicão" foi indicado como destinatário dos valores pelo ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, preso na Lava Jato.
Pinheiro relatou ainda que, em reunião, Vaccari "afirmou que teria uma dívida da campanha de Haddad de R$ 3 milhões com uma gráfica" e "perguntou se poderiam pagar essa dívida e abater o valor na conta corrente que mantinham, decorrente das obras da Petrobras".
Ante a concordância de Pessoa, um o ex-diretor financeiro negociou o pagamento e conseguiu reduzi-lo para R$ 2,6 milhões.
Youssef complementou o relato, dizendo que o total do suborno foi repassado de forma parcelada em 2013, em dinheiro vivo ou transferências bancárias feitas por uma das empresas de fachada do doleiro, a Empreiteira Rigidez.
Quebra de sigilo bancário mostra que em 10 de junho de 2013 a Empreiteira Rigidez transferiu R$ 160 mil para outra gráfica ligada a Souza, a LWC Artes Gráficas, que pertencia a sua ex-mulher e a um irmão dele à época dos repasses. De acordo com o doleiro, essa era parte da quitação em favor de "Chicão".
Na prestação de contas de Haddad em 2012 estão registradas despesas no valor de R$ 354 mil com a LWC.
Naquele ano, a LWC declarou ter prestado serviços para comitês de seis partidos no Estado. Foram R$ 960 mil em despesas oficiais, conforme registro no TSE. Desse total, R$ 866 mil vieram do PT.
"Uma empresa mencionada na delação [a gráfica LWC, ligada a Sousa] aparece como fornecedora de serviços, com valores informados de R$ 354.450,00. Na prestação de contas ao TSE [Tribunal Superior Eleitoral], somente consta outra prestação de serviços gráficos de R$ 252.900,00, valores bem inferiores à soma de R$ 2,6 milhões, que teria sido paga pela empreiteira UTC a gráficas", apontam os investigadores da operação de hoje.
Haddad, PT e Vacarri negaram as acusações
Em outra ocasião, a assessoria de Haddad apontou que a única despesa da campanha de 2012 relacionada a Souza referiu-se à gráfica LWC, no valor de R$ 354 mil, que foi paga ainda no período eleitoral.
Segundo o diretório nacional do PT, "todas as operações financeiras do PT foram realizadas estritamente dentro dos parâmetros legais e posteriormente declaradas à Justiça Eleitoral".
O criminalista Luiz Flávio Borges D'Urso, advogado de Vaccari Neto, disse que não há provas de que seu cliente tenha participado de um acerto para pagar dívidas de campanha de Haddad com recursos ilícitos, e isso ocorre porque Vaccari não cometeu os crimes apontados pelos delatores da Operação Lava Jato.
Veja nota da gestão Haddad na íntegra
"Com relação a Operação Cifras Ocultas, deflagrada hoje de manhã pela Polícia Federal, o ex-prefeito Fernando Haddad, por sua assessoria, informa que a gráfica citada, de propriedade do ex-deputado Francisco Carlos de Souza, prestou apenas pequenos serviços devidamente pagos pela campanha e registrados no TRE.
A UTC teve seus interesses contrariados no início da gestão Haddad na Prefeitura, com o cancelamento das obras do túnel da avenida Roberto Marinho, da qual fazia parte junto com outras empreiteiras igualmente envolvidas na Lava Jato. O executivo da UTC, Ricardo Pessoa, era dos mais inconformados com a decisão.
O propalado repasse de R$ 2,6 milhões, se ocorreu, não tem nada a ver com a campanha de Fernando Haddad à prefeitura de São Paulo em 2012, até porque seria contraditório uma empresa que teve seus interesses prejudicados pela administração, saldar uma dívida de campanha deste administrador".
FRANCISCO CARLOS DE SOUZA (São José do Rio Preto, SP, 27/10/1951) Operário metalúrgico, participou da fundação da CUT, tendo sido presidente da Regional Grande São Paulo (1987 a 1989). Foi fundador do PT e membro de sua direção nacional. Deputado estadual entre 1987/1991, foi eleito à Constituinte com 18.584 votos, a maioria recebidos na capital. Participou, durante os trabalhos constituintes, como membro efetivo das comissões de Defesa dos Interesses da Sociedade, do Estado e dos Cidadãos e de Sistematização e suplente da Comissão do Poder Executivo.
Com informações da Folha de São Paulo, Abr, PF e Uol
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