Países da OMC divididos no último dia de negociações no México

 

Economia - 15/09/2003 - 14:52:04

 

Países da OMC divididos no último dia de negociações no México

 

Da Redação com Reuters

Foto(s): Divulgação / Arquivo

 

Profundamente divididos em suas posições e correndo contra o tempo, os ministros da Organização Mundial de Comércio (OMC) se preparavam no domingo para um último esforço em obter um acordo entre países ricos e pobres e chegar a um pacto mundial de comércio. As discussões de cinco dias, iniciadas na quarta-feira no balneário mexicano de Cancún, foram marcadas por reuniões distintas sobre assuntos que vão desde os subsídios dos países ricos para agricultura até a negativa das nações pobres à negociação sobre regras de investimento estrangeiro. O ambiente na reunião era sombrio enquanto delegados dos 146 países membros da OMC faziam suas últimas tentativas de busca de apoio. Um esboço do acordo apresentado no sábado pelo chanceler mexicano, Luis Ernesto Derbez, não agradou nem nações ricas nem pobres. Os países do recém-criado Grupo dos 21 (G21), que reúne países em desenvolvimento tão diferentes como Brasil e Índia, disseram que a proposta não pressionava o suficiente as grandes potências para que reduzam os milionários subsídios à agricultura e que consideram concorrência desleal. Mas também a União Européia (UE), que subsidia sua agricultura, se mostrou insatisfeita e assinalou que estava começando a questionar se valia a pena fazer muito para não receber muito em troca. A UE disse que a eliminação de subsídios em algum momento pontual do futuro é inaceitável. "As posições parecem estar cada vez mais firmes", disse no domingo o porta-voz europeu Keith Rockwell. "Este texto, assim como está, não é aceitável para ninguém". A agricultura é chave nas negociações porque é o sustento de milhões de pessoas em países como Brasil e Argentina, que lideram o Mercosul. Esses países pressionam há anos para que, em particular, os Estados Unidos e a Europa terminem com seus subsídios, enquanto estes pedem aos países pobres maior abertura de seus mercados. "Espero uma declaração (da OMC sobre agricultura) vaga, genérica que jogue a questão da eliminação de subsídios para frente", disse no domingo o ministro da Agricultura brasileiro, Roberto Rodrigues, na linha com o que havia afirmado na véspera. SÓ MINISTROS O especialista em negociações internacionais Marcos Sawaya Jank, que integra a delegação brasileira, disse que apenas os ministros estão autorizados a participar das reuniões deste domingo, e o quanto o documento será favorável ou não a nações como o Brasil dependerá totalmente do avanço dessas conversações. O tom de Jank é mais animador: "Acredito que a agricultura tem tudo para fechar (...) Precisa saber até que ponto Estados Unidos e União Européia cedem, mas se forem incorporados alguns aspectos ao documento, pode acontecer". Jank disse que o projeto de documento apresentado pela OMC no sábado incorpora posições defendidas por EUA e UE, mas também várias sugestões de países como o Brasil, e que o texto abre caminho para ajustes. Um dos pontos do documento diz respeito à extensão da Cláusula da Paz, acordo fechado na Rodada do Uruguai pelo qual os países que se sentirem prejudicados por subsídios de outras nações estão impedidos de questioná-los. O fim da cláusula está previsto para o fim deste ano, mas o documento sugere sua prorrogação "por meses". Até o momento, o Brasil vem lutando contra a possibilidade de ampliação do prazo, mas a prorrogação pode não ser necessariamente ruim para o Brasil, "especialmente se for por apenas alguns meses, se isso servir para conseguirmos outras coisas", ponderou Jank. FALTA DE CONSENSO As divergências também são notórias nos temas de investimento estrangeiro e políticas de concorrência, em particular sobre compras governamentais, que dão lugar a atos de corrupção. Esses temas --denominados "assuntos de Cingapura", porque foram abordados em reunião da OMC levada a cabo na Ásia em 1996-- estão sendo impulsionados por Europa e Japão, mas também têm sido motivo de muita resistência por um grande número de países liderados por Índia e Malásia. "É como se os assuntos de Cingapura pudessem levar a um acordo ou quebrar um acordo", avaliou um funcionário norte-americano no domingo, acrescentando que poderia haver suficientes negociações nesta jornada para chegar a um acordo sobre agricultura. Os ministros precisam encontrar suficiente campo de consenso em Cancún para manter vivas as negociações até um novo pacto de liberalização do comércio mundial que deve estar pronto até o final do próximo ano. O Banco Mundial tem dito que um bom acordo poderia agregar receitas de mais de 500 bilhões de dólares anuais à economia até 2015 e retirar 144 milhões de pessoas da pobreza.

Links

...Continue Lendo...

...Continue Lendo...

Vídeo