O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, ontem, ao abrir a 37ª Expo Abras, a maior convenção de supermercados na América Latina, que está convencido de que a reforma tributária promoverá a justiça fiscal no país, porque "vai fazer com que aqueles que podem mais, paguem mais, e aqueles que podem menos, paguem menos, sobretudo para tornar o país mais competitivo nas relações internacionais".
Lula garantiu que a reforma vai desonerar a cesta básica. "Seria uma insanidade a pessoa que criticou a carga tributária, que aumentou de 25% para 36%, querer que ela suba ainda mais", afirmou o presidente.
No discurso, o presidente fez também um balanço do Fome Zero e afirmou que o programa já chegou aos 850 municípios mais pobres do país, beneficiando 780 mil famílias. Segundo Lula, a previsão é de que, até o final do ano, 1,5 milhão de famílias do Norte e Nordeste sejam beneficiadas. Ele prometeu ultrapassar essa meta em 2004: "Vamos ultrapassar as metas deste ano, e isso é mais que obrigação".
Lula garantiu que vai haver mais dinheiro circulando no país e disse que tentará fazer com que "todo e qualquer dinheiro disponível que possa financiar o consumo de alimentos possa ser colocado à disposição de todo aquele que precisa do dinheiro, que é a parte mais humilde da população".
Ele informou que estão sendo colocados cerca de R$ 4 bilhões à disposição de pessoas físicas: "Vamos instituir com as centrais sindicais uma linha de financiamento a juros mais baratos. Vamos fazer isso também com os aposentados, que poderão obter financiamento de até 2 salários mínimos a juros de 2%. O presidente lembrou que a Caixa Econômica Federal está abrindo cerca de 150 mil contas populares por mês, como forma de acesso ao microcrédito.
Sobre o comércio exterior, Lula disse que é preciso haver integração cultural, comercial e política do Mercosul , por meio da construção de pontes, estradas, ferrovias e hidrovias. É preciso também que haja vôos entre as capitais desses países.
Em outubro, Lula vai fazer uma reunião com os presidentes dos países integrantes do Mercosul para definir quais projetos serão priorizados. No encontro, também serão definidos aqueles que precisarão de financiamento externo.
O presidente elogiou o desempenho da delegação brasileira na reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC), que terminou ontem, em Cancún, no México, destacando o trabalho dos ministros do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, das Relações Exteriores, Celso Amorim, e da Agricultura, Roberto Rodrigues, junto com o dos demais representantes do G-21, grupo dos países em desenvolvimento. "Criamos os G-21 para fazermos um luta política e comercial com os países desenvolvidos, sobretudo Estados Unidos e os da União Européia, que queriam consolidar a política de subsídio deles".
Lula disse que, ao defender uma forma mais equilibrada de comércio externo na reunião da OMC, o Brasil e o grupo de países em desenvolvimento não estavam pedindo privilégios. “Não estamos pedindo qualquer favor. O que estamos pedindo é que os países em desenvolvimento tenham uma política de comércio exterior onde sejamos tratados em igualdade. Nós queremos apenas a oportunidade de competirmos livremente. É apenas isso que estamos querendo.”
Agora, a discussão prossegue na OMC, disse ele. “Quem sabe não sejamos mais apenas 21? Quem sabe passemos a ser 24, 25, 26, 30? E quem sabe tenhamos uma força política capaz de fazer com que sejamos ouvidos pelos países que têm hoje um poder econômico e um poder de comércio maior do que os países em desenvolvimento?".
O presidente afirmou que esta estratégia está ligada a uma política brasileira mais arrojada de comércio exterior. Ele lembrou que, em oito meses, já se encontrou com todos os presidentes sul-americanos e que, em novembro, se reunirá com os africanos. Em dezembro, irá ao Oriente Médio. “Acho que precisamos abrir todas as possibilidades que existem para os países da América do Sul , porque achamos que este é século em que a América do Sul deixará de ser simbolizada no mundo como uma parte da pobreza. Nós temos condições de dar um salto de qualidade”, garantiu.
Ele afirmou também que é hora de o país deixar de ser tratado como pequeno. Para o presidente, numa negociação como essa, é preciso se impor para ser respeitado. “Eu aprendi que ninguém respeita quem vai negociar com cabeça baixa. Ninguém respeita quem vai negociar de forma subalterna. De cabeça erguida, defendendo nossos interesses, nós poderemos crescer e abrir espaços extraordinários”, disse ele, muito aplaudido no discurso.
O presidente disse que esse comportamento é que está norteando a política externa. “ Esse é o papel do Furlan, do Roberto Rodrigues, do Celso Amorim. Porque o jogo é duro e sabemos que fraqueza não permite que a gente ganhe o jogo”.
Ele disse que, no Brasil atual, não há espaço para choradeira. Para o presidente, agora há condições de reclamar e ver o que precisa ser feito. “Acabou o tempo da choradeira. Esse país é assim: prefeito joga culpa no governador, que joga a culpa no presidente, que joga a culpa no FMI, que culpa o Papa e que volta para o povo. Cada um de nós tem que assumir a responsabilidade”.
O presidente elogiou o setor de supermercados pelas parcerias que vem fazendo com o governo nos programas de combate à fome e ao analfabetismo. “Se todo mundo assumir o pedacinho da responsabilidade que tem, vai ficar mais fácil e todos nós vamos ganhar".
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