Depois de mais de seis meses de pesquisas, a ONU anuncia que concluiu o primeiro relatório internacional já realizado sobre a fome no Brasil. O resultado não é animador: um em cada três brasileiros tem problemas de desnutrição. Este placar é um dos mais altos do planeta e, no caso brasileiro, a situação é causada pela desigualdade social, diz o resumo publicado.
Quando a ONU se refere à desigualdade social quer se referir fundamentalmente à péssima distribuição de renda existente em nosso país, uma das agudas do universo. O estudo da ONU foi preparado pelo sociólogo suíço, Jean Ziegler, que deixou de dar publicidade oficial do documento na Assembléia Geral que acontece neste mês de setembro na cidade de Nova York. Ziegler justifica que assim fez para que não se fizesse exploração política do estudo: “Não gostaria que os dados fossem usados pelos candidatos nas eleições”.
A ONU, em tese, é um organismo imparcial e confiável em seus diagnósticos e este documento que deverá ser publicado logo após as eleições, ou vai se aproximar dos números apresentados pelo governo, 22 milhões seriam os brasileiros abaixo da linha de pobreza, ou vai se aproximar dos números que o PT insiste em serem os corretos, e por eles chegariam a 44 milhões os brasileiros em tal situação.
Seja qual for o número mais verdadeiro, a ONU considera inaceitável que existam tantos brasileiros com carências absolutas, ou quase absolutas, isso em se tratando de um país com tantos recursos abundantes e de rico potencial. Mas o que mais espanta os técnicos da ONU envolvidos neste trabalho é que os níveis atuais (considerando os números do governo, 22 milhões) não são muito diferentes dos verificados no início da década de 80, mesmo considerando o aumento da população.
A contradição maior, e é o que a ONU mais deplora, é que o Brasil produz alimentos em quantidade mais que suficiente para alimentar todos os seus habitantes. Ou em tradução calórica: o Brasil produz alimentos para dar 2,9 quilocalorias (o mínimo aceitável seria de 1,9 quilocaloria) para cada um dos 170 milhões de brasileiros, mas em torno de 16 milhões de pessoas estão (sub)vivendo com 250, um índice muito distante do mínimo.
O estudo da ONU faz várias recomendações para que este quadro seja revertido e uma delas a adoção da agricultura de pequena escala, que segundo ela não exigiria senão pequenos investimentos e um pouco de organização para se implantar um programa deste tipo. Embora o documento da ONU não tenha sido divulgado em sua inteireza, sabe-se que ele termina com um pedido: “O sofrimento silencioso e diário de milhões de brasileiros deve ser interrompido”. Mas o que de mais relevante consta nas recomendações da ONU é que os efeitos do crescimento econômico devem ser verticais e horizontais e em proporções razoáveis para todos.
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