Está cada vez mais claro que o capital, desprovido de uma orientação de conteúdo humano significativo, tem uma lógica perversa e essencialmente destrutiva, na qual o valor de “uso” das coisas é inteiramente subordinado ao seu valor de “troca”. Vigora uma insana corrida da produtividade sem precedentes na história da humanidade. Desta forma, regiões inteiras estão, pouco a pouco, sendo eliminadas do cenário industrial. Entre outras conseqüências, a mais arrasadora é sua repercussão no enorme contingente de força humana de trabalho presente nestes países.
Entre tantas destruições de forças produtivas, da natureza e do meio ambiente, há também, em escala mundial, uma ação destrutiva em relação à força humana de trabalho, de tal magnitude que cerca de 800 milhões de pessoas encontram-se hoje ou exercendo trabalhos precarizados ou estando inteiramente “excluídos”. É um grande equívoco conceber-se o fim do trabalho enquanto estiver vigente a sociedade produtora de mercadorias. Incrível que se dê alguma credibilidade a um “ociólogo” italiano (um tal sr. De Masi) que está fazendo fortuna com conferências e palestras nas quais discorre sobre o fim do trabalho e faz a exaltação do ócio.
Tirando o brilhareco ensaiado que faz o delírio de alguns pascácios, sua argumentação é absurdamente primária e enganosa. Há, isto sim, uma profunda desarticulação das formas tradicionais do trabalho e a emergência, por força da globalização, do que tem sido denominado de “trabalho precarizado”. São os terceirizados, subcontratados, “part-time”, entre tantas outras formas assemelhadas, que proliferam em tantos cantos do mundo, e muitas vezes preenchidos pelos imigrantes, pelos “gastarbeiters” na Alemanha, pelo “lavoro nero” na Itália, pelos “chicanos” nos Estados Unidos, pelos “dekasseguis” no Japão, etc. Quem não tem trabalho não pode ter dignidade e não há pregador religioso que possa provar o contrário.
Todo este quadro de desarticulação provocado pela cega hegemonia do capital sobre todas as coisas, tem conseqüências gravíssimas para o mundo todo. Um exemplo: o maior número de excluídos concentra-se entre os mais jovens e os mais velhos e, por fim, a criminosa e precoce inclusão de crianças no mercado de trabalho, particularmente nos países até há pouco chamados de emergentes e que com a crise geral emergem cada vez menos.
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