A exclusão dos transportados

 

Opinião - 14/10/2003 - 11:28:07

 

A exclusão dos transportados

 

Da Redação com agências

Foto(s): Divulgação / Arquivo

 

Entre os tantos excluídos do nosso modelo social perverso, enfatiza-se agora o dos excluídos do transporte.

Entre os tantos excluídos do nosso modelo social perverso, enfatiza-se agora o dos excluídos do transporte.

São aqueles que, imprensados entre a necessidade de deslocar-se para trabalhar longe de sua moradia e o minguado salário ou renda que têm, optaram por fazer a viagem a pé, mesmo que as distâncias sejam longas. O fato é que as tarifas do transporte urbano de massa, no Brasil, subiram bem acima da inflação, na última década, o que eliminou as classes de renda mais baixa do acesso a esse transporte. Em oito capitais, desde a implantação do Plano Real (1994), as tarifas dos coletivos subiram até 48% acima da variação do INPC, índice que orienta os reajustes salariais dos trabalhadores. As justificativas do poder público concedente e dos empresários concessionários desse serviço público, para os aumentos, são a elevação dos preços dos insumos e a queda da demanda. A população de baixa renda deixa de usar os coletivos porque a tarifa é alta. Essa é alta porque a quantidade de usuários cai e os custos sobem. A queda média de usuários de ônibus no período, nas principais capitais, foi de 24%. Em parte devido à migração para o transporte alternativo clandestino; mas também em grande parte pela opção da bicicleta ou de andar a pé. Aqui no Recife, a proibição (finalmente) do transporte clandestino no centro expandido aumentou a demanda por ônibus, mas não contribuiu para a melhora dos serviços de transporte coletivo. Em Salvador, recente aumento provocou a ira dos estudantes, que paralisaram a capital baiana diversas vezes. Na Região Metropolitana do Recife, região semelhante ao do Grande ABC, por exemplo, que tem 3,2 milhões de moradores, 1,6 milhão de pessoas não podem usar ônibus devido ao alto custo das passagens (52 milhões em todo o País não têm condições de pagar pelo serviço). Além do aumento dos preços dos insumos e dos próprios veículos e sua manutenção, outro fator de que os empresários se queixam é a gratuidade para alguns tipos de usuários. O certo é que dificilmente a prestação de um serviço dessse gênero tem condições para gerar lucro. Por isso os poderes públicos assumem seu ônus, não adotando o sistema de concessão para o transporte urbano, em países como os Estados Unidos, a França, a Itália e outros. Nesses países, o nível médio dos salários pagos aos trabalhadores é incomparavelmente mais alto do que no Nordeste e em todo o Brasil. Mesmo assim, as empresas públicas que prestam esse serviço não buscam alto lucro, só o necessário para mantê-lo em bom funcionamento. Naqueles países, o serviço de transporte coletivo urbano não humilha seus usuários, submetendo-os a situaçõs vexatórias, como acontece aqui: número insuficiente de veículos (o que os faz rodar superlotados em horas de pico); número insuficiente de viagens por linha/dia; falta de manutenção, que obriga o usuário a tomar outro transporte quando um veículo enguiça durante a viagem; catracas que mais parecem instrumentos de tortura; bancos incômodos; motoristas que geralmente dirigem como se estivessem conduzindo gado para o matadouro etc., etc., etc. Tudo com a conivência oficial. Uma solução para o grave problema tem de ser encontrada, e adotada, rapidamente. Somos, por princípio, defensores intransigentes da iniciativa privada como geradora de bens, serviços, empregos; mas esses produtos têm que ser necessariamente de boa qualidade, e em quantidade que atenda à demanda. Como observa Joelmir Beting, conhecido e reconhecido analista e comentarista no meio econômico, a verdade é que “o Estado brasileiro é um descarado estelionatário”, pois não devolve à sociedade, em quantidade e qualidade, o que dela retira em tributos, tarifas e encargos: “Os que se obrigam a andar a pé para conseguir trabalhar são os mesmos que pagam 29,2% de impostos na farmácia da esquina ou 32,4% no básico do material escolar”.

Entre os tantos excluídos do nosso modelo social perverso, enfatiza-se agora o dos excluídos do transporte.

Entre os tantos excluídos do nosso modelo social perverso, enfatiza-se agora o dos excluídos do transporte.

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