Depois de ter recuado na primeira metade dos anos 90, a fome voltou a crescer no planeta: a cada ano, aumenta em 5 milhões o número de pessoas que comem muito aquém do mínimo necessário, ampliando a legião de famintos que já chega a 850 milhões. Na pequena lista de 18 países onde o problema vem diminuindo, o Brasil é novidade – mas o Governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o programa Fome Zero nada têm a ver com a retração, pois a comparação é feita entre o início dos anos 90 e o fim da gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Os dados estão no relatório anual da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), divulgado ontem. O documento, Estado da Insegurança Alimentar no Mundo – 2003, adverte que as campanhas internacionais para alimentar as populações pobres vêm fracassando nos últimos anos e são cada vez mais remotas as chances de atingir, em 2015, a meta da ONU de reduzir pela metade o total de subnutridos no mundo.
O estudo relata programas bem-sucedidos em quatro países: Brasil, Panamá, Quênia e Vietnã. E conclama todas as nações a adotar e apoiar o Programa Mundial contra a Fome, recentemente proposto pela FAO.
Nesse trecho, o relatório informa que o Brasil conseguiu reduzir de 12% para 9% o universo de famintos, entre os períodos de 1990 a 1992 e 1999 a 2001. Em números absolutos, de 18,6 milhões para 15,6 milhões – redução ocorrida no segundo Governo FHC, quando a rede de proteção social levava adiante programas sociais, como Bolsa-Escola, Comunidade Solidária, e de vacinação e assistência à saúde, responsáveis pela redução da mortalidade infantil e pelo aumento do número de crianças em escolas.
Embora anunciado bem depois do estudo, o Fome Zero é citado também como um dos sinais encorajadores na luta contra a subnutrição no mundo. O relatório traz análise detalhada, por região e países, onde se percebe que o problema é localizado. O norte da África, a região ao sul do Saara e o Oriente Médio são os pontos onde a situação piorou e muito. Na outra ponta, Ásia, América Latina e Caribe tiveram progressos elogiáveis, puxados pela China, que conseguiu a façanha de tirar 74 milhões de pessoas da fome entre 1995 e 2000. O pior índice é do Congo, que atravessou os últimos oito anos mergulhado em guerra e desordem civil e viu seu número de subnutridos chegar a 36,7 milhões de pessoas. Nigéria e Gana apresentaram retrocessos consideráveis. Entre os bem-sucedidos, além da China, há índices animadores no Vietnã, na Tailândia, no Haiti e em Moçambique.
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