Não é por acaso que os recordistas de queixas no Procon sejam as instituições financeiras e as empresas de telefonia. Seguramente não há no mundo um lugar onde os bancos sejam tão regiamente tratados e sejam tão lucrativos quanto nesta terra de Santa Cruz, também chamada Brasil. Aqui, o poder dos bancos é incontrastável e os brasileiros que não sejam grandes aplicadores e grandes depositantes são considerados cidadãos de segunda classe. E esta subcidadania começa pelas filas que se formam diante dos cada vez mais raros caixas - um ritual cansativo e humilhante a que são submetidos os pequenos correntistas. Mas não apenas humilhante e cansativo, também oneroso pelo tempo que lhes é subtraído. Quando inscrito na infamante relação da Centralização de Serviços de Bancos S.A. (Serasa) - “positivado” no jargão corporativo - sabe que terá pela frente uma longa e aviltante batalha para recuperar seu crédito, e são inúmeros os que malogram nesta jornada kafkiana. Muitos preferem suportar e assumir prejuízos para ter novamente o seu nome “limpo” - uma denominação que dá bem a medida do terror serasiano. Os brasileiros ficaram reféns da Serasa (uma espécie de SNI “laico”), entidade que acumpliciada com a banca, comanda com seu pan-óptico a vida financeira de cada um. Nesse sentido, foi mais que oportuna a iniciativa do deputado Fernando Giacobo (PPS) em criar uma Comissão Parlamentar de Inquérito na Câmara Federal para que a Serasa, de abusivamente investigadora, passe à condição de investigada. Afinal, uma empresa que arrecada mais de R$ 1 milhão por dia para prestar informações sigilosas ao arrepio da Constituição, que não paga impostos e que mantém acordos operacionais com empresas sediadas no exterior, precisa ficar - ela sim! - exposta e aberta a toda a sociedade brasileira.
|