Festival folclórico de Parintins, uma festa de cores em meio a floresta amazônica

 

Turismo - 20/05/2004 - 10:39:24

 

Festival folclórico de Parintins, uma festa de cores em meio a floresta amazônica

 

Da Redação com agências

Foto(s): Divulgação / Arquivo

 

Na chegada, a ilha de Tupinam-baranas, mergulhada no rio Solimões, abriga a cidade de beleza única, mas dividida ao meio entre o vermelho e o azul, as cores dos bois Garantido e Caprichoso, personagens de uma batalha anual que mobiliza os moradores em torno da encenação do boi-bumbá. A paixão pelo boi, que também se expressa nas casas, unhas das mulheres e roupas, pintadas nas cores do boi preferido, chega ao auge em junho, durante o Festival Folclórico de Parintins. E boi por ali não é só a representação de pano que entra em cena para levantar a arquibancada como em uma final de campeonato, mas todo o conjunto folclórico das agremiações, as alegorias, as representações de lendas indígenas, a música e a dança. A rivalidade entre os dois times que fazem a festa é antiga e remonta aos trovadores repentistas de duas famílias locais, que entoavam canções para desafiar o adversário, inspirados na tradição vinda do Maranhão. Festival O festival, sempre nos dias 28, 29 e 30 de junho, independentemente do dia da semana, atrai mais de 50 mil visitantes todos os anos. Reúne no Bumbódromo -o palco da festa- mais de 3.000 integrantes de cada um dos grupos quase centenários que disputam a preferência de seus conterrâneos desde a década de 60. E nesses três dias, os bois do Garantido e do Caprichoso deixam seus “currais” -espécies de quadras de escolas de samba- para viver um enredo simples, inspirado na história da morte do boi mais bonito da fazenda, sacrificado pelo personagem Pai Francisco, que pretende roubar-lhe a língua para satisfazer os desejos de gravidez de sua mulher, Mãe Catirina. Perseguido pelo patrão e dono do animal, Pai Francisco se esconde entre os índios, enquanto o dono da fazenda tenta ressuscitar o boi -o que só acontece com a ajuda do pajé. Com o boi de volta à vida, Pai Francisco está salvo, e a festa continua. Na arena folclórica, diante de mais de 30 mil pessoas, desfilam ainda outras figuras saídas do imaginário caboclo, como o Gigante Juma, a Cobra Grande, o Boto, o Curupira. Tudo preparado cuidadosamente durante meses, para ser revelado em três espetáculos completamente diferentes, em dias consecutivos, fazendo a glória dos habilidosos artesãos locais. A festa de estrutura rígida, em que as lendas e rituais indígenas e figuras regionais são quesito obrigatório, mostra a riqueza da cultura e do folclore amazônicos, capazes de oferecer assunto para mais de 30 anos de espetáculo. Durante a festa, alegorias entram no Bumbódromo aos pedaços, para que possam passar pelos portões estreitos, e formam seu quebra-cabeça sob os olhares incrédulos dos visitantes diante da grandiosidade das peças, que chegam a ter 30 metros de altura. Cada uma delas vai ser palco para um novo ato dessa verdadeira ópera da selva, representando as cenas do boi. Iluminadas com rigor cênico, com luz que muda de foco, cor e intensidade, as alegorias mecanizadas se desdobram, voam, andam, gritam e abrigam uma multidão de atores locais encenando lendas e pajelanças. Ao redor, centenas de figurantes envolvidos por fumaça colorida desenvolvem suas coreografias em vestes luxuosas, feitas com plumagens, juta, cipó e sementes nativas. Música Tudo isso ao som dos tambores -levado por mais de 400 ritmistas- e de ao menos uma dezena de toadas, que ajudam a espantar a monotonia. Sempre com o acompanhamento da “galera”, que, em Parintins, mais que uma gíria para tratar a torcida, é uma das 22 categorias em julgamento. Sua participação vale pontos preciosos na disputa, e a torcida defende suas cores ao agitar os braços, balançar bandeiras, acenar com “luvas” de plástico colorido e acender candeias conforme a história se desenrola. Mas quando entra em campo o boi do “contrário” -como os habitantes da cidade se referem ao adversário, evitando dizer seu nome-, o silêncio é absoluto. Por três horas, mais de 15 mil pessoas se calam, em outro momento impressionante. Ninguém diz nada, não há qualquer movimento, vaia ou aplauso. Se a “galera” se manifesta durante a apresentação do rival, sua equipe perde pontos na contagem dos jurados. Ao longo desse espetáculo a céu aberto, um apresentador narra tudo que se passa na arena e aponta o item que está em julgamento, animando o público. Entra em êxtase quando surge o boi de pano, em uma aparição apoteótica do alto de uma das alegorias. Dentro dele vai o “tripa”, que por mais de duas horas, pula e dança carregando nas costas o personagem principal da festa. Originalmente uma brincadeira só para homens, hoje a festa do boi exibe mulheres com traços indígenas e caboclos na pele da Sinhazinha da Fazenda -a filha do dono do boi-, da Porta-Estandarte, da Rainha do Folclore, da Cunhã Poranga -moça bonita na língua dos índios da região. Marketing Nas ruas, os telefones públicos têm a forma do boi, os postes de luz e as placas de trânsito são pintados de azul e vermelho, dividindo as torcidas geograficamente, como se se tratasse de duas cidades. A lata de cerveja tem duas cores, e o calor de uma das torcidas conseguiu até mesmo transformar uma das marcas mais consagradas do mundo, a Coca-Cola. Outdoors espalhados no lado Caprichoso da cidade trocam o tradicional vermelho e branco do patrocinador oficial pelo azul da “galera” local. Com pouca infra-estrutura, a cidade lota no período da festa. Quase não há oferta de hospedagem, e muita gente se amontoa nas redes esticadas nos barcos ancorados na margem do rio. Nos bares e pequenos restaurantes, multidões se acotovelam. O Bumbódromo já não acomoda mais todo mundo que quer participar, e telões espalhados pela cidade servem de consolo para quem não conseguiu ingresso. Fora dos festivais, Parintins é uma cidade pacata, visitada de quando em quando por navios luxuosos de cruzeiro, como parte de suas rotas no mar do Caribe. O boi só aparece aos sábados, nas festas organizadas em cada um dos currais. Mas a paisagem da floresta de várzea, da mata de terra firme e das inúmeras ilhotas e praias de rio já é suficiente para criar o cenário perfeito para uma aventura amazônica, que sempre acaba no porto lotado de embarcações típicas regionais. É sempre um espetáculo caprichoso, de brilho garantido. Conheça melhor a cidade Parintins fica distante de Manaus 420km (leste) por via fluvial, por via aérea são 350km e a viagem leva em torno de 1 hora. Com mais de 90 mil habitantes a cidade é localizada a margem direita do rio Amazonas, a Ilha Tupinambarana. A vegetação, típica da região amazônica, é formada por floresta de várzea e terra firme, tendo ao seu redor um relevo composto por lagos, ilhotas e uma pequena serra. No rio Uaiacurapá, na época da vazante, surgem as belas praias fluviais. Também procuradas pelos banhistas, as ilhas do Pacoval, das Onças do largo Mar e das Guaribas têm ainda a vantagem de serem ricas em flora e fauna. Para os apreciadores da pesca esportiva, as opções também são variadas. Macurany, Parananema, Aninga, Zé Açu, Valéria e Uaiacurapá são alguns dos muitos lagos piscosos da região. A serra de Parintins é outro atrativo natural que merece ser visitado. É uma pequena formação de 152 metros de altitude circundada por espessa vegetação, no seu pé, estende-se o Lago da Valéria, velho conhecido dos pescadores. Cidade limpa e aconchegante, Parintins tem tudo para agradar o visitante. Para os adeptos do “turismo cultural”, a dica é incluir na programação uma visita à igreja do Sagrado Coração de Jesus, construída em 1883; às casas situadas na Rua Benjamin da Silva e Praça Eduardo Ribeiro; e às ruínas da Vila Amazônica, resultado da migração japonesa para a região, estimulada pelo cultivo da juta na década de 30.

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