|
O próximo longa-metragem de Mel Gibson, sobre a rainha guerreira britânica Boudicca, promete tanta polêmica quanto ao seu trabalho anterior, A Paixão de Cristo, seja por críticas das feministas que transformaram Boudicca em ícone, ou de historiadores, para quem a personagem ainda é um enigma.
Gibson está acostumado às controvérsias. Seu filme anterior causou ultraje entre grupos judaicos, que se esforçaram para fazer com que fosse proibido, alegando que o retrato explícito da crucifixão culpou os judeus injustamente por sua morte.
Agora a Icon, a produtora de Gibson, está trabalhando sobre Warrior, no qual quer levar ao cinema a história de Boudicca.
É um tema que certamente vai causar polêmica na Grã-Bretanha, onde Boudicca incentivou seus habitantes a rebelar-se contra as forças de ocupação romanas, entre 60 e 62 d.C.
"Sabemos muito pouco sobre Boudicca, mas, mesmo assim, ela foi transformada em ícone histórico", disse a especialista em folclore Juliette Wood.
Também conhecida como Boudica ou Boadicea, Boudicca virou tema quente em Hollywood, onde quatro roteiros sobre ela estão sendo desenvolvidos, entre eles uma produção da DreamWorks intitulada Queen Fury.
Estudiosos tiraram Boudicca, cujo nome significa Vitória, da obscuridade histórica no século 16. O pouco que se sabe sobre ela foi tirado de escavações arqueológicas e do historiador romano Dio Cassius.
Escrevendo pouco após a rebelião britânica, Cassius descreveu Boudicca como sendo "de estatura muito alta, de aparência muito assustadora, extremamente feroz em seu olhar, com voz áspera e uma grande massa de cabelo ruivo forte que caía até seus quadris".
Deduções
Cassius se baseou em grande medida em relatos do historiador Tácito, cujo sogro, Agricola, ficou frente a frente com as hordas celtas.
Camadas subterrâneas de cinzas das casas romanas destruídas em Colchester, Londres e St. Albans confirmam a fúria da rebelião liderada por Boudicca, mas o resto é dedução.
"Ela foi uma das primeiras britânicas a deixar a rivalidade tribal de lado e reconhecer uma identidade nacional", disse Miranda Aldhouse-Green, professora de arqueologia na Universidade de Gales.
"É sabido que ela era uma pessoa de força tremenda", disse a professora. "Para convencer outras tribos, como a dos Trinovantes, a lutar a seu lado, ela deve ter tido muito carisma."
Wood diz que Boudicca desapareceu da história durante a Idade Média, mas que foi redescoberta no século 16 pela rainha Elizabeth 1ª, interessada em promover o conceito da rainha guerreira nobre.
Encharcado de sangue
Como A Paixão de Cristo, de Gibson, a história de Boudicca é encharcada de sangue.
Depois de ter sido açoitada por ter desafiado os romanos que ocupavam a Bretanha e de ter assistido ao estupro de suas duas filhas, ela aplicou uma vingança sangrenta contra a cidade romana de Colchester.
Gavin O´Connor, membro da equipe que trabalha com Mel Gibson em Warrior, disse à Variety no mês passado que o filme vai romper com as convenções dos filmes de batalha de tema feminino, que costumam fracassar nas bilheterias.
"O que me atraiu é que Boudicca foi movida pelo desejo de vingança pessoal", disse O´Connor. "Ela nunca teve objetivos políticos."
As provas dessa sede de vingança podem ter sido encontradas em Londres, onde arqueólogos encontraram um cemitério romano profanado na época da revolta britânica. A cabeça de uma mulher jovem tinha sido colocada entre as pernas de um velho.
Mas Mary Mackie, autora do romance celta People of the Horse, acha que a tribo de Boudicca, a dos Iceni, não deve ser satanizada.
"As pessoas pensam na tribo como sendo de selvagens, mas não o era", disse ela. "Pelos padrões romanos, eles eram bastante civilizados, além de ser excelentes artesãos."
|
