Vencida a batalha na Câmara, o Planalto não esperou nem 24 horas para deflagrar a guerra pela aprovação do salário mínimo de R$ 260 no Senado. Principal articulador na votação da medida provisória na quarta-feira, o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, começou o dia ontem em tom de comemoração, tratando o assunto como ''uma vitória importante do governo e da sociedade''. O discurso não foi encampado pelo chefe da Casa Civil, José Dirceu, que cuidava da relação com os parlamentares antes de Rebelo assumir o cargo. Cauteloso e desconfiado, Dirceu se esquivou do clima de festa.
- Não vejo por que devemos comemorar. Foi importante aprovar o mínimo possível, com o aumento do salário família, mas agora os líderes do governo e o ministro Rebelo vão trabalhar para aprovar o reajuste no Senado - alertou.
O chefe da Casa Civil avaliou a votação de quarta-feira como a primeira batalha e lembrou que o poder de compra dos trabalhadores será recomposto pela queda da inflação e pela redução dos ajustes de tarifas públicas.
Defendendo a tese de que o reajuste de R$ 20 foi feito no limite do possível, Dirceu voltou a apontar como vilã a vinculação do mínimo com os benefícios da Previdência Social, ''que eleva os custos dos reajustes''.
Aldo Rebelo preferiu manter o otimismo e se mostrou confiante para aprovar a MP também no Senado:
- Acho que vai acontecer o mesmo que ocorreu na Câmara. Foi uma vitória importante da sociedade. Não se trata de um alívio, mas sim do dever cumprido - avaliou.
Para garantir novo triunfo entre os senadores, o ministro da Coordenação Política começou a trabalhar cedo. Tomou café da manhã no Palácio do Planalto com líderes da oposição nas duas Casas.
O senador José Agripino (PFL-RN) saiu do encontro explicando que a conversa girou em torno das próximas votações no Congresso, do acúmulo de medidas provisórias e, claro, das divergências sobre o reajuste do mínimo aprovado na Câmara.
- Viemos aqui, cavalheirescamente, devolver a visita que o ministro Rebelo fez aos nossos gabinetes e estabelecer o diálogo que estava prometido. É uma conversa entre governo e oposição em torno do interesse nacional, o que o ministro sabe fazer muito bem - explicou.
Outro líder que derramou elogios a Rebelo foi Arthur Virgílio (PSDB-AM). Segundo ele, o ministro nem de longe lembra ''a patota'' do governo Lula:
- A iniciativa desse encontro revela o democrata que o ministro é. Mostra a vontade de tornar as relações mais plurais, em vez daquela coisa fechada que já foi a marca desse governo num passado recente.
Sobre a medida provisória do mínimo, a oposição pareceu afinada nos prognósticos da votação no Senado. Agripino conta com o apoio do PMDB e do PL para rejeitar o salário de R$ 260.
- Não vamos abrir mão, em hipótese alguma, da discussão à exaustão, levando nosso ponto de vista ao limite máximo. Não conseguimos na Câmara, mas tenho fortes expectativas de conseguirmos no Senado - previu.
Arthur Virgílio recorreu até à Grécia antiga para criticar os métodos usados pelo Planalto na aprovação da MP.
- No Senado o governo não vai obter ''vitória de Pirro'' - criticou, referindo-se ao rei Pirro, que entrou para a história como símbolo de vitória inútil, quando invadiu a Itália, em 281 A.C., com 25 mil homens e 20 elefantes. O triunfo contra Roma saiu tão caro que Pirro foi forçado a se retirar da Itália.
Sobre as prioridades de votação, os líderes de oposição relacionaram o projeto de biossegurança, a Lei de Falências, a reforma do Judiciário, a redução do número de vereadores e as parcerias público-privadas.
- São assuntos de interesse nacional e, evidentemente, merecem atenção dos partidos - afirmou Agripino.
A oposição também reclamou do excesso de medidas provisórias que têm se tornado ''uma jamanta desgovernada'', impedindo a votação de projetos importantes, segundo Arthur Virgílio.
- O governo pede boa vontade, a oposição também, mas não há boa vontade que resista a essa verdadeira jamanta sem freio que é o governo legislando sob medidas provisórias - acusou o senador.
O PFL engrossou as críticas ao excesso de MPs.
- O ministro Rebelo tem consciência de que este é o grande dificultador do processo legislativo e não nos cabe resolver essa questão. MP é iniciativa do governo - advertiu Agripino.
A Operação Vampiro também entrou no cardápio do café da manhã. Virgílio pediu a Rebelo o mesmo empenho da investigação de fraudes na Saúde para ''desvendar os casos misteriosos'' que a oposição considera inacabados. Citou a morte do prefeito de Santo André, Celso Daniel; as denúncias de tráfico de influência contra o ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz; e as notas fiscais falsas que foram usadas pela ONG Ágora.
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