Preocupado com o racha da bancada do PMDB na Câmara durante a votação da medida provisória que reajustou o salário mínimo para R$ 260, o governo pediu socorro ao presidente do Senado, José Sarney. Com a bancada governista dividida, o prestígio de Sarney será colocado à prova nesta votação.
O presidente do Senado prometeu se empenhar pessoalmente. Afirmou que compreende as razões que forçaram o governo a conceder o pequeno reajuste e vai tentar convencer os senadores de sua bancada de que não havia outro saída para o mínimo.
- As circunstâncias da economia obrigaram o presidente Lula a não ir além dos R$ 260 - afirmou, em discurso sintonizado com o Planalto.
Precavido, o governo começa já na próxima semana sua ofensiva na Casa. A maior preocupação dos líderes governistas é evitar, o mais rápido possível, que os senadores do PMDB e do PL comecem a declarar publicamente que votarão contra a proposta do governo e influenciem os demais parlamentares.
Seguindo o modelo adotado na Câmara, o Planalto vai destacar ministros para conversarem diretamente com os senadores e pedirem votos em favor da proposta do governo. No caso do PMDB - que negociou longamente suas duas pastas no Governo - a atuação direta de Eunício Oliveira (Comunicação) e Amir Lando (Previcência) está sendo requisitada
Vitorioso na disputa contra a reeleição e em busca do apoio para sua candidatura à presidência do Senado ano que vem, Renan Calheiros (AL) garantiu que o partido estará unido, em sua maioria, a favor do governo.
O grupo político de Sarney, contudo, ainda não considera a questão fechada. Senadores ligados a ele ameaçam votar contra o salário mínimo de R$ 260, ou pelo menos se ausentar do plenário.
- Voto contra, já fiz isso com a MP dos bingos - antecipou, por exemplo, o senador João Alberto (PMDB/MA).
A líder da bancada governista e do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), admitiu ontem que os 32 votos de deputados do PMDB contrários à proposta do governo são preocupantes. Sinalizaram, em sua avaliação, que no Senado a aprovação da matéria não será tão fácil como prega Calheiros.
Dentro do PT, contudo, a senadora garantiu que o partido fechará questão em favor da proposta do governo. Segundo ela, o resultado da votação da bancada petista na Câmara, onde apenas cinco deputados do partido votaram contra a proposta governista, quando 21 parlamentares alardearam que iriam se rebelar, serviu para ''desinflar os ânimos''. Esta mesma situação, diz, deverá se repetir no Senado, mantendo apenas o senador Paulo Paim (PT-RS) contra a medida provisória.
Quinta-feira, Paim afirmou que pelo menos cinco senadores do PT votarão contra o mínimo de R$ 260. Ideli esquivou-se de defender a expulsão de Paim ou qualquer outro senador do PT que vote contra o governo.
- Isso é um assunto para a Executiva do partido. Prefiro que ele seja tratado lá - afirmou
O maior problema para o bloco governista é com relação ao calendário de votação. Este mês está previsto um esvaziamento do Congresso em função das festas juninas e das convenções partidárias. Se não for votada até o próximo dia 12, a MP do salário mínimo passa a obstruir a pauta do Senado. Se passar de 28 de junho, o governo precisaria reeditar a medida provisória por mais 60 dias, antes que perca sua validade.
- Estou pensando em pedir ao senador Ney Suassuna (PMDB/PB) para transferirmos a votação para Campina Grande (PB). Lá a gente votaria e já ficaria para o forró. afirmou, bem humorada, a líder do PT.
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