O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, disse na quinta-feira que está pronto para submeter seu mandato a um referendo popular, depois de autoridades eleitorais anunciarem que seus adversários reuniram número suficiente de assinaturas.
O ex-pára-quedista do Exército, que venceu as eleições sete anos depois de liderar um fracassado golpe de Estado em 1992, disse que respeitará o resultado da consulta popular.
"Estamos prontos para ir ao referendo presidencial", disse Chávez no palácio de governo em Caracas, em discurso transmitido em cadeia nacional de rádio e televisão.
"Amigas e amigos, é só mais uma nova batalha e o que nos espera é uma nova vitória", disse Chávez no discurso, em que mostrou uma réplica da espada do líder da independência Simón Bolívar e leu passagens bíblicas.
Do lado de fora do palácio de governo, milhares de "chavistas" se reuniam desde cedo para dar apoio ao líder auto-proclamado da "revolução" em favor dos pobres.
"Devo dizer a vocês (...) que aqui em minha alma, que aqui em minha mente, que aqui em meu espírito, não tenho o menor sinal de uma derrota. Eu ainda não joguei, agora é quando começa o jogo", disse, ao lado de uma grande imagem do Cristo crucificado.
O presidente venezuelano também qualificou o referendo, instrumento previsto na Constituição promovida por ele em 1999, como "uma vitória" da democracia que diz fortalecer.
Chávez pronunciou-se poucas horas depois de o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela ter afirmado que a oposição conseguiu validar mais de 2,45 milhões de assinaturas, superando o número mínimo de 2.436.083 nomes, ou 20 por cento do eleitorado, para validar o referendo.
Após o discurso, Chávez saiu do palácio para saudar seus seguidores, que empunhavam bandeiras e gritavas palavras de ordem a favor do presidente,
Líderes da oposição consideram o resultado uma grande conquista de sua intensa campanha para tentar derrubar o presidente do quinto maior exportador de petróleo do mundo. Algumas pessoas foram às ruas do país para comemorar o que consideram uma vitória.
Chávez, um presidente populista eleito pela primeira vez em 1998 e reeleito em 2000 para um segundo mandato de seis anos, disse acreditar que vencerá no referendo, embora pesquisas demonstrem o contrário.
Sondagens recentes revelam que, apesar de uma popularidade de 40 por cento, Chávez perderia em uma consulta para retirá-lo antecipadamente do cargo.
OPOSIÇÃO COMEMORA
Imediatamente após o anúncio do CNE, a coalizão de oposição Coordenadora Democrática -- que desde o domingo anunciava ter obtido as assinaturas necessárias -- comemorou os números.
"Chegou o momento estelar e já podemos afirmar de maneira categórica e clara que, apesar de todos os tropeços que nos impuseram, conseguimos. Conseguimos o objetivo graças ao espírito firme do povo venezuelano", disse Enrique Mendoza, um dos líderes da Coordenadora Democrática.
O CNE ainda não estabeleceu uma data para a consulta popular, mas já sugeriu que poderia ser realizada em 8 de agosto deste ano.
A oposição reiterou que quer realizar o referendo antes de 19 de agosto de 2004, para poder convocar eleições em um prazo máximo de 30 dias, caso Chávez seja derrotado, como determina a Constituição do país.
Se o referendo ocorrer depois de 19 de agosto e Chávez perder, o vice-presidente assume o governo até o final do mandato, em 2007.
Para conseguir revogar o mandato do presidente, a oposição precisa de um voto além dos 3.757.773 que Chávez obteve quando foi reeleito em 2000.
O referendo necessita ainda da participação de pelo menos 25 por cento do total de eleitores para ser realizado.
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