Não é novidade para ninguém que a classe artística sempre apoiou o PT. Não só a classe artística, sobretudo o segmento mais vinculado ao cinema e a ao teatro, como também os escritores que se dedicam à literatura ficcional. Pois o governo ensaia um projeto que reformula a chamada Lei Rouanet, a que disciplina os incentivos fiscais para os setores de artes cênicas, artes plásticas, música e literatura. Em vigência há mais de dez anos, ao longo desse período ela já repassou R$ 2 bilhões para estas atividades.
Apesar de muito combatida, o fato é que a lei propiciou a modernização de vários teatros, a preservação de museus e a criação de importantes institutos culturais pela iniciativa privada, que sem ela não teriam existência pública. O Ministério da Cultura, a pretexto de que ela favorece demais a região Sul e Sudeste, e, portanto, não incentiva novos, formidáveis e desconhecidos talentos fora deste eixo, quer alterá-la.
Um dos argumentos é que no Estado do Amazonas, por exemplo, não se conseguiu captar um único e solitário real de incentivo para projetos culturais. A mudança em curso no âmbito do governo pretende impor critérios geográficos e obrigar as empresas que pretendam investir em cultura a fazê-lo fora destas duas regiões.
Como já se conhece o modus operandi do PT, é possível imaginar o desperdício de recursos (que já são escassos) em projetos sem nenhum sentido e repercussão. Além, é claro, da utilização de canais clientelísticos para favorecimento de "companheiros" vinculados aos diretórios estaduais e municipais do PT.
Mas a mudança pretendida vai além da geografia e dá ênfase a critérios "sociais", aqueles definidos pelos companheiros como "projetos focados nas prioridades do País". O que é social e o que é prioridade, quem vai decidir, obviamente, será a nomenclatura do partido.
Tem mais: a reforma da Lei Rouanet tal como pretendida, confere especial destaque às iniciativas que ressaltem "as emergências e carências sociais" (quais serão?) e quem tiver dentro deste modelo petista terá preferência no acesso aos recursos.
O palavrório já é conhecido e o discurso que enfileira os mesmos slogans antiquados também é. O que é novo é a assunção clara de uma postura que tem tudo a ver como dirigismo cultural. Artes cênicas, artes plásticas, música, literatura, todas devidamente adubadas pelos nutrientes do engajamento político.
Felizmente, muitos e conceituados artistas, principalmente do Rio de Janeiro e São Paulo, já se deram conta da empulhação ideológica travestida de política cultural popular que se quer impor ao País.
|