As lições da campanha eleitoral

 

Opinião - 21/09/2004 - 09:54:36

 

As lições da campanha eleitoral

 

Gaudêncio Torquato (*) .

Foto(s): Divulgação / Arquivo

 

Gaudêncio Torquato, jornalista, é professor titular da USP e consultor político. Site: www.gtmarketing.com.br

Gaudêncio Torquato, jornalista, é professor titular da USP e consultor político. Site: www.gtmarketing.com.br

Como as estações do ano, toda eleição tem seu clima. Algumas apontam para maior conscientização do eleitorado. Outras indicam maior polarização entre determinadas candidaturas em função da temperatura ambiental. As eleições municipais deste ano – as maiores de toda a história de nossa República, tanto do ponto de vista da densidade eleitoral (116 milhões de eleitores) quanto sob o aspecto da quantidade de candidatos (cerca de 350 mil candidatos para disputar 51 mil cargos de vereador e 5.560 cargos de prefeitos) – movimentam um exército de mais de 10 milhões de pessoas, considerando-se a mobilização de 30 pessoas, em média, por candidato. Este ano, as campanhas municipais, que se desenvolvem sob o signo da estrela petista desfralda no arco central do Poder, permitem perceber alguns movimentos, cujos eixos centrais podem ser assim alinhados: 1. Eleitorado mais racional – Um sentido mais crítico e racional impregna o sistema de percepção e decisão dos eleitores. Observa-se maior atenção aos valores encarnados pelos candidatos, estabelecendo-se, em conseqüência, comparação entre perfis e avaliação acurada de idéias e propostas. O fortalecimento do eixo da racionalidade é perceptível pela "sabedoria" dos eleitores, sentida na decisão de dividir espaços políticos entre partidos e candidatos. 2. Quem fizer 20% dos votos é o vitorioso – As campanhas políticas dos últimos anos apontam para certo equilíbrio entre partidos. Quatro grandes partidos – PFL, PMDB, PT e PSDB – têm dividido as margens eleitorais, garantindo entre 13% a 15% dos votos do eleitorado brasileiro. Por isso mesmo, na campanha corrente, quem obtiver cerca de 20% a 25% dos votos será, seguramente, o grande vitorioso. 3. Fim do ciclo do marketing exacerbado – O marketing político tem avançado muito no País, desde os tempos em que Fernando Collor inaugurou a fase do marketing governamental exacerbado. Este ciclo deu margem a mcdonaldização do marketing eleitoral, que atinge o clímax na atual campanha com a proliferação da "pedagogia da fazeção" (fulano fez, fulano fará). 4. Onda vermelha chega ao sertão – O PT tem sido, historicamente, um partido urbano e, mais isso, estruturado nas camadas mais exigentes da sociedade organizada. Nesta eleição, o Partido alça vôo em direção ao interiorzão do País. Tomará parte no lugar há tempos ocupado pelo velho PFL e pelo PMDB. Chegará aos grotões, aliciando novos contingentes e semeando a cor vermelha nas praças públicas de pequenas e médias comunidades. 5. Um pássaro na mão contra dois voando – A esperança que venceu o medo – bordão da campanha vitoriosa de Lula – agora é objeto de crítica. A esperança, hoje, é apenas mais um signo da repetição de promessas mirabolantes. O eleitor percebeu que o céu prometido ainda não abriu as portas para abrigar sua felicidade. Continua uma utopia. Por isso, prefere um pássaro na mão que dois voando. 6. Santo de casa não faz o milagre que se esperava – Esta campanha sepulta a idéia de que basta uma celebridade aparecer pedindo votos para o candidato crescer nas pesquisas. Ou seja, os pacotes de falas encomendadas a figuras de realce na política não estão alcançando a força com que determinados candidatos contavam. Também fica consagrado nesta campanha o ditado "santo de casa não faz milagre". Lula, o presidente, não está conseguindo "salvar" seu candidato em São Bernardo do Campo (SP), Vicentinho, ex-presidente da CUT e hoje deputado. 7. Os horizontes de 2006 começam a brilhar – Constrói-se, na eleição deste ano, a base para abrir a jornada de 2006. Não há nenhuma dúvida. Quem fizer a maior bacia de prefeitos do País e agregar os maiores conjuntos eleitorais, estará aplainando os primeiros caminhos para a campanha para governador e Presidente da República. O PT, tudo indica, possui as melhores condições – políticas e materiais – para liderar o processo. 8. Marketing pós-eleitoral – Muitos candidatos à reeleição se surpreenderam com a baixa aceitação de seus nomes. Imaginavam que pelo simples fato de postularem novo mandato, seriam aceitos tranqüilamente pelos eleitores. Erraram. A visão rasteira dos administradores públicos é ganhar e só se preocupar em se relacionar bem com a sociedade nas proximidades da eleição seguinte. Por isso, os prefeitos que tomarão posse, em 2005, o farão com consciência mais apurada sobre a necessidade de desenvolver marketing de forma permanente. 9. Abertura da Reforma Política – A reforma política está ficando bem madura. A campanha deste ano continuou a mostrar as mazelas da política: as alianças feitas por conveniência de momento; muitos recursos para uns e poucos para outros candidatos e partidos; programas eleitorais adoçados com o caldo do auto-elogio; meios de comunicação impedidos de fazer uma cobertura mais adequada; partidos amorfos, sem doutrina e sem engajamento dos participantes. Por isso, a reforma política é a bola da vez. 10. Fortalecimento da sociedade organizada – A sociedade brasileira está cada vez mais organizada. Grupos de interesse se juntam em torno de entidades. Movimentos populares se multiplicam pelos espaços centrais e periféricos. A mobilização social se faz sentir pela multiplicação dos organismos de representação vertical (classes sociais) e horizontal (espaços geográficos). Gaudêncio Torquato, jornalista, é professor titular da USP e consultor político. Site: www.gtmarketing.com.br

Gaudêncio Torquato, jornalista, é professor titular da USP e consultor político. Site: www.gtmarketing.com.br

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