País precisa de reforma política, dizem analistas

 

Politica - 15/03/2005 - 09:21:12

 

País precisa de reforma política, dizem analistas

 

Da Redação com BBC

Foto(s): Divulgação / Arquivo

 

Vinte anos após a posse do primeiro civil na Presidência, o Brasil precisa urgentemente reduzir o número e aumentar a importância dos partidos políticos, na avaliação de brasilianistas americanos ouvidos pela BBC Brasil. De um modo geral, eles fazem um balanço positivo dos avanços políticos nesses 20 anos de democracia no país, mas ressalvam que a economia e a redução da desigualdade social ainda desafiam a sociedade brasileira.

"O Brasil precisa urgentemente de uma reforma na lei eleitoral", afirma o historiador Thomas Skidmore, ex-professor da Universidade Harvard, autor de vários livros sobre o Brasil e um dos maiores especialistas sobre o país nos Estados Unidos. Mas ele não acha que essa reforma, com o objetivo de reduzir fortemente o número de partidos, será facilmente obtida. "É difícil fazer uma reforma num sistema em que as novas regras têm que ser aprovadas pelos que vão perder", afirma.

O professor Riordan Roett, diretor do Programa de Hemisfério Ocidental da Universidade Johns Hopkins, em Washington, também considera a reforma dos partidos políticos o maior desafio para os próximos anos. "Há várias reformas na mesa, mas logicamente quem vai perder não vai querer aprovar essas mudanças", afirma.

Vantagens

Roett acredita que o processo democrático está consolidado, com eleições transparentes e sem corrupção."-O sistema é melhor do que o americano", avalia.

Skidmore concorda. "Pelo menos a máquina eleitoral funciona, coisa que não acontece nos Estados Unidos, a democracia mais famosa do mundo", diz ele.

Skidmore aponta a sucessão do presidente Fernando Collor de Mello, que deixou o cargo após processo de impeachment pelo Congresso, como um dos pontos altos desse período, junto com a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Num país onde o sistema político era um monopólio das classes altas, um trabalhador ser eleito é quase um milagre. O problema agora é que a coalizão que ele lidera é muito instável", analisa o historiador, que voltou aos Estados Unidos no fim de semana, depois de passar oito dias no Brasil.

Impeachment

Apesar da importância da eleição de um candidato de fora da classe política tradicional, Skidmore diz que ainda é cedo para dizer que a democracia brasileira está consolidada. "Sempre é possível", diz ele, ao ser questionado sobre o risco de um novo regime autoritário.

"O Brasil é uma democracia muito jovem. Vinte anos não é nada. Nos Estados Unidos, nos primeiros 20 anos ainda tínhamos uma guerra civil", compara.

Ele acha que a memória da ditadura militar e da tortura é forte entre os brasileiros, mas acha que os brasileiros são muito céticos em relação à capacidade de o país se desenvolver. "Tudo vai depender muito do sucesso econômico", afirma.

O professor Kenneth Maxwell, da Universidade Harvard, diz que a transição suave da ditadura para a democracia, com um processo negociado e sem uma ruptura, também "tem seu preço". Ele acha que a anistia foi muito ampla e jogou os problemas para debaixo do tapete. "Mas é claro que não se pode fazer isso para sempre, e agora os problemas começam a aparecer", afirma.

Maxwell diz que a continuidade e a transição pacíficas são a marca do processo político desde da época colonial. "O caso Sarney é o exemplo clássico, de um político que já era político há muito tempo e foi colocado ali como um elemento de ligação. É uma ironia que houve mais continuidade do que se esperava", diz ele, referindo-se à morte do presidente eleito Tancredo Neves e a posse do então vice, o senador José Sarney.

O impeachment do presidente Collor, dentro das regras estabelecidas, sem ameaça de golpe, é um fato notável, diz ele. "Isso não é comum na América Latina. E ainda serve de aviso aos futuros presidentes."

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