O presidente Luiz Inácio Lula da Silva usou seu discurso durante a reunião que manteve nesta terça-feira, em Cidade Guayana, na Venezuela, com os presidentes Alvaro Uribe (Colômbia), José Luis Zapatero (governo da Espanha) e Hugo Chávez (Venezuela) para fazer uma defesa do comportamento do presidente venezuelano. "Nós não aceitamos difamações contra companheiros. Nós não aceitamos insinuações contra companheiros. A Venezuela tem o direito de ser um país soberano, de tomar as suas decisões", disse Lula, acrescentando que não tem medo de fazer essa afirmação em "nenhum lugar do mundo".
Na semana passada, o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Donald Rumsfeld, criticou, durante visita ao Brasil, o anúncio venezuelano da compra de 100 mil fuzis de origem russa para equipar suas Forças Armadas.
"Nós, da América do Sul, somos capazes de cuidar de nossos asuntos", completou Lula.
O presidente brasileiro também isentou o colega venezuelano de ligações com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), suscitada em dezembro, quando Rodrigo Granda, um dos líderes das Farc, foi capturado em Caracas, suspostamente por mercenários, e entregue à polícia colombiana em troca de uma recompensa estimada em US$ 1,5 milhão.
Na época, Chávez classificou o pagamento como "suborno" e disse que o caso constituía uma violação da soberania nacional venezuelana.
"A Venezuela não precisa ser acusada de coisas que, a gente que convive com você, Chavez, sabe que não fazem parte do seu comportamento e do seu pensamento", completou Lula.
O presidente brasileiro lembrou que, na campanha presidencial de 2002, seus opositores faziam acusações de que ele tornaria o Brasil uma outra Venezuela e também de que o PT receberia financiamento das Farc.
"Não tomamos a sério essas denúncias", disse Lula, lembrando de recentes reportagens sobre o assunto na imprensa brasileira.
"Nós temos muita gente falando mal de nós no mundo", disse Lula. Para o presidente brasileiro, a reunião presidencial de hoje sinaliza que é importante para o avanço da integração na região o estabelecimento de "confiança" entre os dirigentes dos diversos países.
"Não é possível fazer política sem confiança entre as pessoas que fazem a política".
Nesta segunda-feira, o Departamento de Estado dos EUA divulgou o relatório anual Informe Anual 2004 sobre Direitos Humanos, em que cita Venezuela, Cuba e Haiti como países com deficiências na área. Cuba e Venezuela são "pontos negros" na região e, neste último país, os direitos humanos teriam regredido no último ano.
Combate ao narcotráfico
O presidente colombiano, Alvaro Uribe, obteve durante o encontro a reafirmação do apoio político de Brasil, Venezuela e Espanha à resolução dos problemas de seguranca interna de seu país. Há quatro décadas, o governo colombiano enfrenta diversos grupos guerrilheiros instalados no país, além de grupos paramilitares e o narcotráfico.
Em seu discurso, durante a reunião, o presidente Lula disse que "o Brasil se põe à disposição da Colômbia" para que o país obtenha "tranquilidade". "A medida em que haja o entendimento de que o Brasil possa ajudar em alguma coisa, para que consigamos tranquilidade na Colômbia, pode ter certeza de que você terá no Brasil um sócio para ajudar nisso", disse Lula.
Integração sul-americana
Lula também ressaltou a importância de se continuar dando passos para a concretização da integração regional. Ele destacou o papel que a Espanha pode desempenhar neste processo.
"Penso que nestes dois anos conseguimos um extraordinário avanço nas relações de nossos países" e na integração regional, afirmou.
O presidente brasileiro disse que estes laços "avançaram muito porque nos últimos dois anos estabelecemos uma relação de confiança muito grande entre nós". Porém, Lula frisou a necessidade de se continuar dando passos para "sedimentar" o processo e evitar que se fique apenas em "discursos".
Lula elogiou a participação de Rodríguez Zapatero na cúpula, que classificou como "significativa e simbólica", e discursou sobre o papel que "um país tão importante como a Espanha" pode desempenhar na integração latino-americana.
O governante brasileiro também afirmou que a América Latina "sempre viu a Espanha como uma espécie de porta de entrada" para muitas coisas que precisam ser feitas com a União Européia.
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