Acuado dentro do próprio partido, o PTB, que o pressiona a deixar a presidência nacional da sigla, e no Congresso, onde sofre ameaça de cassação por denúncias contra o governo envolvendo seu nome, o deputado federal Roberto Jefferson (RJ) promete fazer novas "revelações" sobre corrupção envolvendo integrantes da administração federal. No início da semana, ele já tinha denunciado um suposto "mensalão" pago pelo PT a parlamentares em troca de apoio político. Jefferson confidenciou a colegas de partido nesta terça-feira que possui provas do pagamento das "mesadas" e teria como demonstrar, inclusive, quanto cada colega teria recebido. Além disso, Jefferson garantiu que irá revelar, em uma futura CPI ou mesmo fora dela, denúncias ainda mais graves do que as feitas até agora.
O "trunfo" do petebista seria baseado em gravações, supostamente em seu poder, comprometendo políticos de diversos partidos e inclusive ministros de Estado, entre eles o titular da Casa Civil, José Dirceu. Ele se referiu a essas fitas como uma "caixinha de maldades".
Deputados do PTB revelaram nesta terça-feira que Jefferson teria "muita gente na mão", inclusive parlamentares de seu partido. Ele, porém, não chegou a dar pistas do teor das gravações.
Jefferson é o pivô de toda a crise política que o governo federal tem enfrentado nos últimos dias. Tudo começou quando uma gravação de vídeo mostrou um funcionário dos Correios cobrando propina em nome do deputado, o que motivou a oposição a exigir a instalação de uma CPI para apurar as acusações. A tensão foi acirrada na segunda-feira, quando Jefferson afirmou à imprensa que o PT pagou R$ 30 mil a parlamentares até janeiro passado - o referido "mensalão".
PTB põe cargos à disposição
Nesta terça-feira à noite, integrantes da cúpula do PTB não conseguiram convencer Jefferson a renunciar à presidência nacional do partido. Após mais de duas horas de reunião com o deputado federal, no seu apartamento em Brasília, o secretário-geral da sigla, deputado Luiz Antonio Fleury (SP), afirmou que a permanência de Jefferson será decidida somente no próximo dia 17, quando ocorrerá reunião do Diretório Nacional, convocada pelo próprio presidente. Fleury deu a entender que Jefferson não pretende abandonar o posto.
O secretário-geral disse ainda que seu partido irá apoiar a CPI dos Correios e todas as iniciativas voltadas a investigar o "mensalão" alardeado por Jefferson. Além disso, devido ao mal-estar provocado por Jefferson o PTB deverá colocar nesta quarta-feira todos os cargos à disposição, incluindo o ministério do Turismo, hoje sob o comando do petebista Walfrido Mares Guia, e a liderança do governo no Congresso, atualmente exercida pelo senador Fernando Bezerra (RN). O PTB detém ainda cerca de 10 cargos importantes no governo, entre eles a vice-presidência da Caixa Econômica Federal.
A decisão de disponibilizar os cargos no Planalto será ainda analisada por deputados e senadores petebistas, em reunião agendada para esta quarta-feira. Participaram do encontro desta terça com Jefferson o secretário-geral da sigla, deputado Luiz Antonio Fleury (SP), o ministro Mares Guia, o líder do PTB na Câmara, deputado José Múcio, e o deputado Iris Simões.
O PTB já tinha realizado reunião semelhante entre a noite de segunda-feira e a madrugada de terça, sem a presença de Jefferson, na qual recomendou sua saída da presidência. Lideranças petebistas se sentiram traídas pelo deputado, o qual teria feito a denúncia do "mensalão" à Folha de S.Paulo sem consultá-las.
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