O deputado Roberto Jefferson, presidente do PTB, garantiu nesta terça-feira que a integridade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva está ameaçada por membros da cúpula do PT, em especial pelo ministro da Casa Civil, José Dirceu, que teria omitido de Lula as denúncias do suposto "mensalão", esquema que teria distribuído valores de até R$ 30 mil mensais a parlamentares do PP e PL em troca de apoio político. Durante as mais de 6h de depoimento ao Conselho de Ética da Câmara, que o acusa de falta de decoro parlamentar por fazer denúncias de corrupção sem apresentar provas, Jefferson garantiu haver informado seis ministros sobre a existência de corrupção no governo, porém eles teriam preferido calar. Ele citou Dirceu, Antonio Palocci e Aldo Rebelo.
"Deram uma facada nas costas do presidente", disse o petebista, que centrou ataque em Dirceu: "Zé Dirceu, se você não sair daí rápido, você vai fazer réu um homem inocente, que é o presidente Lula. Sai daí rápido, Zé", atacou.
Jefferson assegurou que as notícias eram politicamente conduzidas por Dirceu porque era preciso haver "sangue" e existia a intenção de atribuir ao PTB "toda a corrupção" que há no Brasil.
Durante a tarde de terça, a agência Reuters chegou a informar que Dirceu já teria encaminhado sua demissão para retomar seu posto na Câmara como líder do governo, a fim de comandar a defesa do Planalto às denúncias de Roberto Jefferson. A assessoria do Planalto desmentiu a informação em seguida. De acordo com petebista, Dirceu e integrantes da cúpula petista eram os comandantes do esquema.
Jefferson reafirmou no plenário o que já tinha dito em entrevista à Folha de S.Paulo: foi ele quem informou Lula sobre o "mensalão" em janeiro deste ano, quando o deputado já teria comentado o caso com os ministros citados. Lula teria demonstrado perplexidade na ocasião e, segundo o petebista, ordenou a interrupção imediata do pagamento.
Jefferson tem até às 19h desta quarta-feira para comprovar as denúncias, caso contrário, pode ter o mandato cassado. Ele assegurou que os seus advogados vão cumprir o prazo e que tudo será entregue de forma escrita.
Enquanto atacou Dirceu e o PT, Jefferson isentou o presidente Lula e o classificou como um "homem bom", "simples" e "nobre". O presidente do PTB reafirmou que, assim que os supostos subornos acabaram, o Planalto perdeu o controle do Congresso, que começou a sofrer o que chamou de "síndrome de abstinência".
O deputado repetiu aos parlamentares que o presidente do PT, José Genoino, sabia da prática, e confirmou que o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, de Minas Gerais, era o responsável por levar o dinheiro aos deputados.
O presidente do PTB disse que há um mês foi acusado de irregularidades nos Correios por causa de uma "montagem" dos serviços de inteligência do governo. Insinuou que por trás de tudo estava a mão de Dirceu, e acusou o ministro de manipular grandes grupos de imprensa para "linchá-lo".
Jefferson garantiu que tem "a fita completa" do vídeo que o envolve no caso dos Correios, "não a editada" e que vazou para a imprensa, e disse que nela "60% das acusações são contra o secretário-geral do PT, Silvio Pereira".
Jefferson disse que "toda a verdade" será conhecida nas CPIs dos Correios e do "mensalão". "Não corro, não temo e enfrentarei cada passo, cada momento, cada instante, cada segundo, porque este processo vai muito longe", afirmou o deputado, que afirmou travar uma "luta solitária" na qual não espera apoios, porque tem pela frente uma dura batalha.
Na segunda parte da defesa, o deputado foi questionado pelos parlamentares. Ele alegou que o PT ajudou os candidatos do PTB na campanha para prefeito com R$ 4 milhões e que esse total não pôde ser declarado como manda a lei. Além disso, discutiu com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, chamando-o de mulherengo e acusando-o de receber o mensalão e ser um dos responsáveis pela distribuição do dinheiro entre os parlamentares. "Estou vendo cair a máscara de quem durante 25 anos disse defender a ética", afirmou Jefferson olhando nos olhos de Costa Neto.
O presidente do PTB também trocou acusações com o líder do PL na Câmara, deputado Sandro Mabel (GO), dizendo que ele teria oferecido R$ 1 milhão de "luvas" e "mesada" de R$ 30 mil à deputada Raquel Teixeira (PSDB-GO) para trocar de partido. Mabel respondeu dizendo que o Brasil perdeu um bom engraxate e ganhou um grande mentiroso.
O líder do PTB ainda atacou a Rede Globo, chamada por ele de "Diário Oficial" e a revista Veja, que segundo ele não divulgou todas as informações a respeito do caso a pedido do governo.
O Conselho de Ética vai votar na reunião marcada para quinta-feira, às 10h, os requerimentos que pedem que sejam convidados para prestar esclarecimentos o ministro Dirceu; a deputada licenciada Raquel Teixeira; o deputado Miro Teixeira (PPS-RJ); o governador do Goiás, Marconi Perillo; o secretário-geral do PT, Silvio Pereira; e o tesoureiro do PT, Delúbio Soares.
O requerimento foi apresentado pelo deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), que também pediu que seja convidado o motorista citado por Jefferson, o general Félix e toda a diretoria dos Correios. Fruet também pediu a quebra de sigilo de Delúbio e do publicitário Marco Valério, citado nas denúncias.
O Conselho terá um prazo de 20 dias para investigar as denúncias e decidir se Jefferson deve ou não ser destituído. Uma decisão favorável ao petebista significaria que o Congresso aceita suas denúncias, que levaram à mais grave crise política desde que Lula chegou ao poder, em 2003, num momento de glória para o PT e defendendo as bandeiras da justiça social e da luta contra a corrupção.
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