O presidente Luiz Inácio Lula da Silva citou nesta quinta-feira em Brasília os ex-presidentes Getúlio Vargas, Jânio Quadros, João Goulart e Juscelino Kubitschek ao discursar sobre a crise no seu governo durante reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social em Brasília. O presidente disse ainda que não sabe se concorrerá no pleito de 2006. "Não decidi se serei o candidato, não é o momento", disse Lula. O presidente disse que para enfrentar a crise atual, não vai agir como Getúlio, que se suicidou em 1954, Jânio, que renunciou em 1961, ou Jango, que foi destituído do poder por militares em 1964. "Nem farei o que fez Getúlio, nem farei o que fez Jânio Quadros, nem farei o que fez João Goulart", afirmou Lula.
"O meu comportamento será o comportamento que teve o Juscelino Kubitschek: paciência, paciência, paciência. Porque a verdade prevalecerá e o povo brasileiro vai saber verdadeiramente o que está acontecendo no Brasil, o que está por de trás, quem são os "ocultos" ou não - porque os públicos nós já sabemos - e vai saber quem é quem está praticando corrupção nesse país", concluiu. Lula disse que se sente "achincalhado" como JK, que foi acusado de corrupção pela oposição, mas a denúncia não foi adiante.
Lula pediu calma à população para que as denúncias sejam apuradas antes da punição dos culpados alegando que a Justiça é que deve fazer isso no seu tempo.
Na mesma reunião, Lula defendeu o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, das denúncias de recebimento de propina reclamando da leviandade das acusações e seu efeito na economia. "Sem provas, fazendo um carnaval, colocando em risco o esforço que estávamos fazendo para manter a economia estável", reclamou Lula sobre as denúncias feitas por Rogério Buratti referentes à gestão de Palocci na prefeitura de Ribeirão Preto.
O presidente disse que a crise de denúncias de corrupção que atingem o governo está sendo usada com interesses eleitoreiros. "Não posso aceitar é que, pelas eleições de 2006, algumas pessoas coloquem em risco o direito desse País se tornar sólido do ponto de vista sustentável, do desenvolvimento sócio-econômico", disse o presidente na abertura do evento.
Lula também criticou as denúncias feitas pelo doleiro Toninho Barcelona que atingiram o ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, lembrando que o criminoso foi condenado a 25 anos. "Me incomodou muito essa possibilidade de envolver governo nessa crise. Eu disse, desde os primeiros dias, não ficará pedra sobre pedra após as investigações", completou.
Lula criticou também os procuradores do Ministério Público de São Paulo, que divulgaram informações sobre o depoimento de um ex-assessor de Palocci, Rogério Buratti, antes que ele terminasse seu depoimento. Buratti acusou o ministro da Fazenda de receber R$ 50 mil da empresa Leão & Leão, responsável pela coleta de lixo de Riberião Preto, na época em que Palocci era prefeito da cidade, no interior paulista.
O presidente voltou a lembrar que o PT punirá os responsáveis, mas fez uma crítica ao partido de que é fundador. "Todos sabiam que um partido como o PT, que levou anos para chegar ao poder, não poderia ter cometido os mesmos erros que outros partidos cometeram historicamente", afirmou.
Lula critica imobilidade
O discurso do presidente foi permeado por mensagens positivas de que a crise política não imobilizará o País ou a economia. "As instituições brasileiras são mais sólidas e quanto mais sólidas elas forem, qualquer que seja a temperatura da crise, o tamanho, as instituições estão preparadas para enfrentá-la. E dentro do jogo democrático encontraremos a saída que o Brasil espera". Lula lembrou a valorização real do salário do trabalhador e elogiou a Câmara dos Deputados por aprovar salário mínimo de R$ 300, em vez dos R$ 384 pedidos pela oposição.
Em sua própria defesa, Lula repetiu que não está interessado nas eleições de 2006, garantindo que não mudará seu comportamento devido à aproximação do pleito eleitoral. "Não decidi se serei candidato, não é o momento", afirmou.
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