O presidente nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), Tarso Genro, anunciou, na tarde de hoje, em entrevista na sede do diretório estadual do PT gaúcho, em Porto Alegre, que desistiu de disputar as eleições internas do partido, que ocorrerão no próximo dia 18. Horas depois, o secretário-geral do partido, Ricardo Berzoini, confirmou que será o novo candidato da chapa do Campo Majoritário. A decisão foi anunciada em uma entrevista concedida na sede do Diretório Nacional do PT, em São Paulo, pelo próprio Berzoini. Para Tarso, Berzoini é um bom nome para a presidência. "Mais tarde anunciarei minha posição (sobre Berzoini)", disse Tarso. "Não acho que a esquerda (do PT) represente a renovação (...) Nós temos que incorporar um novo grupo dirigente", defendeu.
Tarso afirmou que, para ele, uma mudança do PT deveria ocorrer com ruptura, ou seja, os antigos integrantes da chapa como o ex-ministro José Dirceu deveriam desistir de concorrer. "Nós postulávamos uma visão de ruptura e não é isso que estamos vendo acontecer. Por isso estamos deixando a candidatura", disse Tarso.
"Não serei candidato à presidência do partido. Entendo que a posição foi tomada pela maioria e respeito, mas não coincide com minha decisão de um novo pacto dirigente, que renove o partido, que tenha um respeito maior às minorias e que produza suas posições pela sua capacidade de produção, de direção", afirmou.
O presidente do PT criticou José Dirceu pela forma como ele anunciou que não deixaria o Campo Majoritário. Segundo ele, isso "qualifica o tipo de relação que ele tinha com o poder". "Acho que o Zé Dirceu tem reações muito emocionais, mas que no fundo sinalizam uma posição política", afirmou.
"Não podemos achar que um processo social e político é como se fosse um processo natural. O processo da natureza é sem sujeito, não tem quem pense. Na política e na sociedade não é assim. As pessoas escolhem entre várias opções. As pessoas se relacionam com grupos políticos. Chegamos num determinado momento que, se o partido não tiver ligação com suas responsabilidades, não será possível o processo de refundação", disse.
"Eu pretendo iniciar um conjunto de conversações com lideranças nacionais para repensarmos o partido. O partido não esgota o seu movimento de recuperação na medida que tem uma nova presidência. Temos que refundar o PT", afirmou o presidente do PT.
Tarso afirmou que se manterá na presidência do partido até o momento em que houver um novo nome para o cargo. "Me sinto recompensado e honrado como presidente do partido (...) não vou renunciar ao cargo de presidente", disse.
O deputado estadual Raul Pont (RS), um dos candidatos à presidência do PT, divulgou uma nota em solidariedade a Tarso dizendo que a renúncia demonstra que José Dirceu e o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares "não só não foram afastados do PT como ainda continuam dominando o Campo Majoritário do partido". Para ele, essa situação é extremamente prejudicial ao PT, pois o partido "passa por um momento em que a sociedade brasileira espera uma resposta rápida e exemplar frente às denúncias".
Ao deixar a sede do diretório, Tarso afirmou que irá participar amanhã, em Brasília, de uma reunião com representantes dos partidos da base aliada.
Tarso, até então ministro da Educação, assumiu a presidência do partido no início de julho no lugar de José Genoino, envolvido no escândalo de financiamento paralelo do PT. O impasse de sua candidatura ocorreu, sobretudo, em razão da manutenção na chapa de antigos dirigentes do Campo Majoritário, em especial o ex-ministro José Dirceu. Mas nesta tarde Tarso preferiu não "personalizar" a discussão.
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