O governo decidiu apostar todas as suas fichas para eleger o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) à presidência da Câmara. Em reunião de coordenação política realizada ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva demonstrou estar envolvido diretamente no pleito e admitiu realizar até uma reforma ministerial a fim de conquistar votos para seu ex-ministro entre os partidos que compóem a base aliada e possuem representantes na Esplanada dos Ministérios. Somado a isso, o governo acelera a liberação de emendas para cooptar parlamentares e promete mais R$ 500 milhões para as despesas de projetos de autoria de deputados federais. Até a última sexta-feira, o Planalto liberou só em setembro R$ 72,4 milhões em verbas. De acordo com o jornal O Estado de S.Paulo, o valor supera o total entregue nos oito meses anteriores (R$ 67,0 milhões).
Nõ encontro realizado ontem, Lula cogitou até a eleição de Rebelo em primeiro turno e apostou que a eleição do parlamentar será determinante para o desenho da nova base governista, destroçada pela ascensão de Severino Cavalcanti, no início do ano, e pelo escândalo do "mensalão". Para Lula, os ministérios têm de refletir essa base, sinalizando a possibilidade de retirada de pastas de partidos que não apoiarem Aldo Rebelo.
Oficialmente, o governo não admite que esteja ameaçando os ministros, mas confirma a exigência de empenho para emplacar a candidatura de Rebelo. Na última mudança na Esplanada, o presidente da República garantiu que pretendia manter o corpo de ministros inalterado até o fim de seu mandato.
Segundo o Estadão, o governo já dá como certos 180 votos para Aldo e acredita que o candidato pode amealhar 260 - o que resultaria em vitória no primeiro turno. Nas contas do Planalto, é possível garantir o apoio do PT, do PC do B e do PSB, mais cerca de 60 dos 144 votos do PTB, do PL e do PP e no mínimo 40 dos 87 votos do PMDB, que possui candidato próprio - Michel Temer. Na hipótese (mais provável) de segundo turno, a vontade do Planalto é enfrentar José Thomaz Nonô (PFL-AL), pois acredita que terá mais chances de vitória nesse cenário.
Negociações
Nesta segunda-feira, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), um dos principais financiadores políticos do postulante comunista, recebeu a visita pouco habitual do ministro Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência). Esse encontro simboliza a atuação do governo em favor de seu candidato.
"A base já tem mais de um nome, mas acho que minha candidatura está consolidada, porque além dos partidos que já manifestaram apoio, há outros deputados que manifestaram simpatia", disse Aldo Rebelo a jornalistas, procurando refutar, porém, o "carimbo de candidato do Planalto".
Mas Aldo ainda enfrenta resistência dentro do próprio PT. Às vésperas da eleição, enquanto outros candidatos se articulavam nos bastidores para angariar votos, ele teve de passar parte do seu dia reunido com a bancada petista para convencê-la a aderir integralmente à sua campanha.
Após o encontro, o líder do PT, deputado Henrique Fontana (RS), procurava negar essa dificuldade: "O PT está motivado e unido no apoio a Aldo. Ele tende a ter todos os votos do partido. Não há rejeição a ele."
Fator Temer
Nesse cenário, a oposição quer atrair o apoio de Michel Temer (PMDB-SP), outro forte candidato, para vencer José Thomaz Nonô (PFL-AL) já no primeiro turno. Ambas as campanhas fazem frente à candidatura palaciana e disputam, no voto, o mesmo grupo de eleitores, os insatisfeitos com o governo.
Temer está disposto a ir até o fim, negociando uma eventual aliança com o pefelista apenas na esperada segunda rodada de votação. Mas o núcleo oposicionista espera que ele abandone a disputa antes, se ele considerar remotas as chances de polarizar a sucessão.
Há ainda a possibilidade de que a campanha do deputado Ciro Nogueira (PP-PI), afilhado político de Severino Cavalcanti (PP-PE), decole nas próximas horas, mas sem força para chegar ao segundo turno. Se isso ocorrer, o governo tentará atrair seus votos para Aldo.
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