O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu negou nesta terça-feira, em depoimento ao Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, que o PT tivesse "caixa dois" durante a campanha de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República. Dirceu, acusado de ser o chefe do "mensalão", afirmou que o PT apresentou suas contas à Justiça Eleitoral e que os "recursos não contabilizados" tiveram como destino exclusivo o pagamento de dívidas das eleições estaduais do partido.
O deputado afirmou durante uma audiência no Conselho de Ética da Câmara que foi vítima de um "linchamento público". O Conselho estuda a cassação de Dirceu por seu papel no escândalo político, o pior enfrentado pelo PT em seus 20 anos de existência.
Ele foi acusado em junho pelo ex-deputado Roberto Jefferson de comandar um sistema de compra de deputados com dinheiro de empresas e bancos estatais para garantir a aprovação de projetos.
"Fui submetido a um linchamento público. De um dia para outro me tornei o chefe de uma quadrilha", disse Dirceu durante a audiência.
A gravidade das denúncias de Jefferson, ex-presidente do PTB, obrigaram Dirceu a renunciar em julho ao Ministério da Casa Civil.
Junto com Dirceu caiu a cúpula do PT, o presidente José Genoino, o secretário-geral Sílvio Pereira e o tesoureiro Delúbio Soares.
Alianças
Dirceu disse que a crise política atual foi causada pelo programa de alianças estabelecido pelo PT no início do Governo para garantir a aprovação das reformas.
O ex-ministro admitiu que pode ter cometido erros políticos ao fazer acordos com outros partidos, mas rejeitou com veemência que seja o "cérebro" do esquema de corrupção.
Afirmou que Lula tem sua cota de responsabilidade na atual crise política, porque na condição de líder do PT e de presidente da República participou do processo de definição das alianças.
"Não construí o PT sozinho nestes últimos dez anos. Não posso ser responsabilizado pelas alianças aprovadas pela maioria, inclusive pelo presidente Lula", ressaltou.
Dirceu disse que ao atribuir a Lula uma cota de "responsabilidade política" sobre a crise do PT, não sugere que o dirigente seja culpado das acusações de corrupção que preocupam o governo.
O deputado negou que tivesse aproveitado seu influente cargo no Executivo para obter contratos milionários e promover acordos financeiros que beneficiaram seu partido ou os que compõem a base aliada.
|