O ex-ministro e deputado federal José Dirceu (PT-SP) terá a cassação recomendada pelo relator de seu processo no Conselho de Ética da Câmara, Júlio Delgado (PSB-MG). Hoje, Delgado encerra a fase de investigações, abrindo a etapa final do trâmite que pode levar à perda do mandato do petista. A partir de hoje, o processo terá o prazo de cinco sessões do Conselho para ser finalizado. De acordo com o jornal Folha de S.Paulo, Delgado defenderá a cassação do colega alegando que há fortes evidências de que Dirceu está ligado ao suposto esquema do "mensalão". Dirceu nega qualquer envolvimento, alega não haver provas das acusações e, ontem, entrou com mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo a suspensão do processo de cassação.
Segundo fontes ouvidas pela Folha no Conselho de Ética, o relator Júlio Delgado considera que há, sim, provas da participação de Dirceu no esquema de arrecadação de caixa dois operado pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares junto com o empresário Marcos Valério de Souza. Entre as evidências a serem mencionadas no relatório estão as freqüentes visitas de Valério à Casa Civil, comandada por Dirceu até o agravamento da crise política. Delgado vai afirmar que, apesar de estar na época oficialmente afastado das funções de coordenador político, Dirceu na prática ainda comandava as negociações governistas.
Também deve ser citado empréstimo do banco BMG à ex-mulher de Dirceu Maria Ângela Saragoça para a aquisição de um apartamento. O BMG é um dos bancos que repassaram recursos para as contas de Valério para abastecer o caixa dois petista. Nesse caso, Júlio Delgado deverá ainda acrescentar a acusação de tráfico de influência, agravada, segundo a avaliação do relator, pelo fato de Maria Ângela ter conseguido emprego no BMG por meio de Marcos Valério. Ainda pesa o fato de Rogério Tolentino, sócio de Marcos Valério, ter mais tarde adquirido o imóvel da ex-mulher de Dirceu.
Delúbio
Ainda sobre o caso do BMG, apesar de o presidente do banco, Ricardo Guimarães, ter afirmado à CPI dos Correios que foi Valério o responsável por itermediar uma audiência com Dirceu na Casa Civil, membros do Conselho de Ética garantem que foi Delúbio quem arranjou o encontro e, pessoalmente, pediu que o BMG emprestasse R$ 2,4 milhões ao empresário, que depois repassaria os recursos a pessoas indicadas pelo ex-tesoureiro. Em troca, o banco teria acesso a contratos com o governo federal. Essa informação, alega-se no Conselho de Ética, seria outra prova do envolvimento de Dirceu no caixa dois.
Agora, que o processo de José Dirceu chega na etapa decisiva, a expectativa é de que o Conselho decida o futuro do parlamentar somente no dia 17, quando se encerra o prazo previsto para as cinco sessões. A votação se daria mais cedo, mas é feriado na próxima quinta-feira, dia 12.
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