Celso Daniel, prefeito assassinado de Santo André, considerava o esquema ilegal de arrecadação de recursos na prefeitura um "mal necessário para viabilizar a expansão do PT", disse nesta quarta-feira o seu irmão Bruno José Daniel durante acareação na CPI dos Bingos entre ele, seu irmão João Francisco Daniel e o chefe do gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho. Bruno esclareceu que, ele e seu irmão João Francisco, nunca disseram que Celso estava envolvido em corrupção, mas que via o fato como uma "fragilidade das instituições". A CPI recebeu nesta tarde cópias de 42 horas de conversas gravadas entre ex-dirigentes da prefeitura de Santo André. Os irmãos Daniel repetiram na acareação a acusação de que Carvalho sabia da existência de um esquema de desvio de recursos em Santo André. Segundo eles, a revelação foi feita no dia da missa de sétimo dia de Celso Daniel, quando o assessor de Lula foi à casa de Francisco. Na conversa que tiveram, de cerca de 15 minutos, Carvalho teria dito ainda que entregou R$ 1,2 milhão ao então presidente do PT, deputado José Dirceu.
Carvalho confirmou o encontro, mas negou ter feito as revelações. O assessor, que já havia sido acusado por Bruno, em depoimento na CPI dos Bingos, criticou os irmãos Daniel e afirmou que eles fazem parte de um jogo político quando colocam tais acusações contra ele. O assessor disse ainda que João Francisco tenta, a partir de suas afirmações, ser "dono da verdade".
João Francisco Daniel irritou-se com as declarações de Carvalho e afirmou que o que o assessor da Presidência fala "é uma palhaçada". Para ele, Carvalho já se contradisse em depoimentos anteriores ao Ministério Público e em declarações.
João Francisco chegou a desafiar Carvalho a se submeter a um detector de mentiras. Ele não esperar que, como homem de governo, o chefe de gabinete de Lula fosse "dizer a verdade à CPI" e confirmar as acusações de que levava propina arrecadada pela prefeitura de Santo André para José Dirceu. "Eu desafio o senhor a um teste de polígrafo com um organismo internacional. Tem que ser internacional, não confio nos organismos nacionais," afirmou. Gilberto concordou com a proposta.
Em resposta, Carvalho negou mais uma vez que tenha levado dinheiro arrecadado pela prefeitura, em um corsa preto, para José Dirceu de Santo André para São Paulo.
Sobre uma suposta filha de Celso Daniel, questão suscitada por Gilberto Carvalho, Bruno disse que seria preciso fazer um exame de DNA para comprovar a filiação.
Fitas
Gilberto Carvalho garantiu que nunca teve acesso às fitas cassete que registram diálogos telefônicos de pessoas supostamente envolvidas no caso Celso Daniel. As fitas foram gravadas entre janeiro e março de 2002, após a morte do prefeito. Ele disse que os trechos que já apareceram na imprensa são "trechos editados" das conversas.
O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) leu trechos das gravações de conversas telefônicas entre personagens do caso Celso Daniel. Dias indagou de Gilberto Carvalho se o presidente Lula teria mandado que este orientasse os depoimentos dos investigados, como Ivone Santana, namorada de Celso Daniel. Carvalho negou e disse que apenas acompanhou o processo das investigações do caso.
Gilberto Carvalho reivindicou o direito de que as 42 fitas gravadas sejam ouvidas ou transcritas na íntegra. Ele alegou que os trechos lidos por Álvaro Dias estariam "fora de contexto".
O senador Romeu Tuma (PFL-SP) avisou que as fitas já estão sendo periciadas e degravadas no Instituto de Criminalística.
Assassinato
João Francisco Daniel disse que a morte do prefeito ocorreu porque Celso descobriu um desvio de recursos que estava havendo na prefeitura. Esses recursos seriam originalmente destinados para o PT. Sérgio Gomes da Silva, conhecido como o Sombra, e outros, segundo ele, participavam de uma verdadeira quadrilha na prefeitura. O Sombra é um dos suspeitos de ter assassinado o prefeito.
O dinheiro que seria destinado ao PT viria de propinas cobradas pela prefeitura de empresas de ônibus da cidade, e teria como objetivo fazer "caixa dois" para campanhas eleitorais. O dinheiro teria sido levado em um Corsa preto de Santo André para São Paulo por Carvalho, segundo contaram.
O senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) perguntou ao chefe do gabinete pessoal do presidente sobre o Sombra. Carvalho disse que era pessoa de confiança de Celso Daniel e sempre ocupou cargos na prefeitura. Depois, foi afastado e a partir daí surgiram indícios de seu enriquecimento.
Lula não viaja para acompanhar acareação
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cancelou a viagem que faria hoje ao Sul do País para acompanhar a acareação entre os irmãos do prefeito assassinado de Santo André, Celso Daniel, e o chefe de gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho.
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