Um relatório interno da Polícia Federal (PF) acusa um órgão do Ministério da Justiça de "criar obstáculos" para o acesso dos investigadores a documentos ligados ao suposto esquema do "mensalão" e às movimentações financeiras do publicitário Duda Mendonça no exterior (os quais chegaram ontem ao Brasil, diretamente dos Estados Unidos). Segundo a PF, o atraso na entrega dos papéis a membros das comissões parlamentares de inquérito em curso e autoridades está diretamente vinculado a essa suposta intervenção do governo federal. O órgão ao qual a PF se refere é o Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI), criado durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva e vinculado ao Ministério da Justiça, bem como a própria PF.
De acordo com o jornal Folha de S.Paulo, o relatório da Polícia Federal cita nominalmente a coordenadora-geral do DRCI, Wanine Santana Lima, de criar restrições à entrega de documentos durante missão realizada em outubro passado pela PF, em Nova York (Estados Unidos).
A diligência, entre outros objetivos, pretendia buscar dados sobre a conta Dusseldorf, controlada por Mendonça por meio de uma offshore e na qual foram depositados cerca de R$ 10 milhões - supostamente referentes a serviços de publicidade referentes à campanha eleitoral do PT em 2002.
Os documentos já se encontram no País, acondicionados dentro de oito caixas, e estão em poder do Ministério da Justiça. Os papéis serão repassados à PF e ao Ministério Público a fim de serem analisados. Na avaliação da Polícia Federal, as evidências poderiam estar sendo averiguadas há semanas, não fosse a suposta interferência do DRCI.
"Enquanto as equipes policiais trabalhavam nas investigações no Brasil e operacionalizavam a ida a Nova York, a representante do DRCI Wanine Lima encontrava-se no exterior buscando influenciar as autoridades americanas a não repassar as informações solicitadas às autoridades de investigação constituídas e legitimadas", afirma o relatório.
O documento também acusa Wanine de atuar junto com o subprocurador-geral da República, Eugênio Aragão, para interceder junto a autoridades americanas no sentido de não repassarem a documentação solicitada pela PF. Aragão e Wanine não foram encontrados para comandar as acusações.
A assessoria de imprensa da PF procurou minimizar as críticas presentes no documento, afirmando que os problemas entre os dois órgãos estariam "superados". Também negou que haja um clima de animosidade.
O DRCI foi criado para centralizar ações de combate à lavagem de dinheiro e recuperação de recursos no exterior e, recentemente, teve os poderes reforçados por meio de uma portaria conjunta com a AGU (Advocacia Geral da União) e o Ministério Público Federal.
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