A determinação com que o governador paulista, Geraldo Alckmin, perseguiu nos últimos meses a indicação para ser o candidato do PSDB à Presidência da República pode ter surpreendido aqueles que vêem nele apenas um político de fala mansa e perfil administrativo.
Essa disposição, no entanto, é bastante coerente com a descrição dos que o classificam como uma pessoa disciplinada e metódica.
"Ele tem uma obstinação com o trabalho que é impressionante, e é muito disciplinado", descreve seu líder de governo na Assembléia Legislativa, deputado Edson Aparecido.
Religioso, Alckmin costuma dizer que está encerrando uma "missão de 12 anos" no Palácio dos Bandeirantes.
Agora, depois de o PSDB ungi-lo para a disputa pela Presidência da República, esse paulista de 53 anos tem pela frente a tarefa nada fácil de liderar o principal partido de oposição na tentativa de derrotar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Tucano de primeira hora
Alckmin nasceu em Pindamonhangaba, no interior de São Paulo, e formou-se médico anestesista, mas começou a se afastar da área da saúde logo depois de entrar na faculdade.
Integrante do oposicionista MDB durante o regime militar (1964-1985) e de seu sucessor direto, o PMDB, após a reabertura política, Alckmin juntou-se a figuras como Mário Covas, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o prefeito de São Paulo, José Serra, para fundar o PSDB em 1988.
Alckmin foi vereador e tornou-se prefeito de sua cidade natal com apenas 24 anos. Também foi deputado estadual e deputado federal, além de ter ocupado o cargo de presidente estadual do PSDB.
De um total de 34 anos de vida pública, Alckmin passou 12 deles no governo paulista, os seis primeiros como vice do "professor e amigo" Mário Covas, morto em 2001.
Assumiu o governo e em 2002 derrotou o petista José Genoino para ser eleito governador do Estado mais rico do país com 12 milhões de votos.
Alckmin começou a se tornar mais conhecido de uma ampla gama de eleitores quando, ainda vice de Covas, disputou a prefeitura de São Paulo em 2000.
Ficou fora do segundo turno, preterido pelo ex-prefeito e ex-governador Paulo Maluf (PPB), por uma diferença menor que 8 mil votos. A petista Marta Suplicy (PT) acabou sendo eleita na segunda rodada da eleição.
Chuchu de Deus
Católico fervoroso - toma aulas de teologia no Palácio dos Bandeirantes com um líder da prelazia conservadora Opus Dei - Alckmin é tido como um político moderado, pouco carismático e de estilo gerencial, o que lhe rendeu o apelido de "picolé de chuchu".
Neste ano, em meio à disputa interna com Serra pela indicação do PSDB para a candidatura à Presidência, Alckmin acabou assumindo o apelido para tentar reverter a imagem de político sem graça apontada por adversários.
Durante sua campanha para se tornar candidato, Alckmin provou camarão com chuchu no sambódromo do Rio de Janeiro e picolé de chuchu em um programa de TV, durante o qual prometeu: "No meu governo o Brasil vai ter emprego pra chuchu. O Brasil vai crescer pra chuchu, nós vamos ter emprego pra chuchu. Vai ser um governo que é um chuchuzinho."
O tom mais expansivo, garantem aqueles que são próximos, se deve mais à disputa eleitoral do que a uma mudança de postura. Sua decantada disciplina no trabalho, porém, não o torna um líder impessoal.
"Ele é muito afável e aberto ao diálogo", diz o deputado federal Silvio Torres (PSDB-SP).
Mas nem a religião nem essa disposição ao diálogo significam que ele está disposto a aceitar tudo. "O governador não admite traição na política, não admite palavra não cumprida", diz o deputado Edson Aparecido. "Ele tem muita dificuldade para lidar com isso."
Privatizações, Tietê e Febem
O cenário que permitiu a Alckmin tornar-se candidato à Presidência da República pelo PSDB começou a se formar após a eleição paulista de 1990. Derrotado por Luiz Antônio Fleury Filho, então no PMDB, Covas logo adotou o deputado federal de Pindamonhangaba, região onde teve votação proporcionalmente superior às demais.
Quatro anos depois, Alckmin, presidente do PSDB paulista, foi determinante para que Covas disputasse o Palácio dos Bandeirantes novamente, em detrimento de Serra. Foi indicado a vice-governador, eleito em 1994 e reeleito em 1998.
Assim que Covas assumiu o governo paulista, Alckmin se tornou presidente do conselho estadual de desestatização, tendo papel importante no processo de privatizações do Estado.
Isso pode ter ajudado na sua imagem atual de um político com uma visão mais pró-mercado e menos intervencionista na economia, especialmente em contraposição a Serra, com quem travou o duelo em busca da indicação do PSDB para disputar a Presidência.
Em 2002, ao ser eleito ao governo paulista em aliança com o PFL, do vice-governador, Cláudio Lembo, Alckmin ganhou crédito por obras iniciadas por Covas e assumiu o ônus por problemas deixados por seu antecessor.
As principais vitrines do seu governo são o aprofundamento da calha do rio Tietê para evitar enchentes na cidade, a ampliação do metrô de São Paulo e o aumento da jornada nas escolas estaduais de cinco para seis horas-aula.
O calcanhar-de-aquiles do governador está na administração da Fundação Estadual para o Bem-Estar do Menor (Febem), assim como no sistema prisional, que passou por sucessivas rebeliões nos últimos anos.
Casado com Maria Lucia Guimarães Ribeiro Alckmin, o governador e agora candidato do PSDB à presidência tem três filhos e uma neta.
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