Cerca de 10 mil fiéis, segundo estimativa do 6º Batalhão da Polícia Militar, participaram da procissão dos corroceiros em louvor a Nossa Senhora da Boa Viagem, tradicional festa folclórica-religiosa e que integra o calendário turístico do Estado de São Paulo, ocorrida no último domingo, dia 2, pelas ruas de São Bernardo. Neste ano, a imagem da santa, conduzida há 20 anos em carro de boi da família Mazzola, partiu da Paróquia de São Judas Tadeu, no bairro Planalto, e seguiu até a Igreja Matriz no Centro. O trajeto, em torno de seis quilômetros, foi percorrido por pedestres, cavaleiros, carroceiros e ciclistas, que proporcionaram um ar diferente à cidade.
Após a missa das 8h, na Paróquia São Judas Tadeu, os devotos iniciaram a procissão por várias ruas da cidade. Pelo caminho, várias pessoas se juntavam aos fiéis. “Além da nossa fé na santa, a gente faz novas amizades nesse encontro”, afirma o metalúrgico aposentado Antonio Celso Capeloto, 56 anos, morador na Vila Palmares, em Santo André, que há quatro anos participa da procissão com seu cavalo Petróleo. Com a idade mais avançada, a também aposentada Isabel Ribeiro, 75 anos, moradora há 40 anos em São Bernardo, não mais acompanha o trajeto religioso. “Ficou um pouco cansativo para mim, mas não deixo de vir aqui. É uma festa tradicional e muito bonita”, afirma Isabel, enquanto segurava uma bandeirinha da santa e esperava por sua chegada na Praça da Matriz, região central.
A mesma emoção é vivida anualmente pelos irmãos Valter, 58 anos, e Alziro Mazzola, 30 anos, que vêm especialmente de Bragança Paulista, cidade do interior paulista localizada a 160 quilômetros de São Bernardo, para uma missão especial: conduzir a imagem de Nossa Senhora da Boa Viagem no carro de boi da família. A tradição já dura cerca de 20 anos, segundo os irmãos, que não se importaram em levantar às 3h da madrugada do domingo para chegar às 7h30 no município do Grande ABC, exatamente no ponto de saída da procissão. Junto deles, a bordo do caminhão, o carro de boi (com quatro animais). “É simplesmente emocionante”, diz Alziro, com a timidez típica dos trabalhadores na zona rural e que há três anos substitui o pai José Mazzola, 83 anos, na ação religiosa.
Origem - A festa de Nossa Senhora da Boa Viagem, que teve início no sábado com missa, shows e quermesse, completou 90 anos. Desde 1917, devotos da região e romeiros vindos de várias cidades do Estado participam da programação religiosa e cultural. “Entre as décadas de 60 e 80, infelizmente, a festa deixou de ocorrer, principalmente em razão da mudança do perfil de São Bernardo, que passou a ser industrial”, explica o engenheiro mecânico Waldemar Casagrande, 67 anos, que atuou como mestre de cerimônia e foi um dos coordenadores da festa. A partir de 1980, no entanto, a procissão dos carroceiros voltou com força total. “É uma repetição da história, que começou com Dom Pedro I. Ele parava na antiga capela, em frente ao largo da Matriz e que era caminho para Santos, hoje atual rua Marechal Deodoro, e pedia proteção e a benção de Nossa Senhora para uma boa viagem”, conta a pedagoga Ana Maria do Carmo Ronchetti, 55 anos, filha de Bruno e Mercedes Maria Ronchetti, casal que por cerca de 50 anos se dedicou à organização da tradicional festa.
Para os integrantes da Associação Cultural Nossa Senhora de Boa Viagem, santa padroeira da cidade, o público estimado na edição deste ano foi de 15 mil devotos. A festa encerrou as comemorações de aniversário de São Bernardo, que completou 454 anos dia 22 de agosto.
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