O segundo relatório sobre denúncia contra o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) será apresentado amanhã ao Conselho de Ética da Casa. Neste processo, Renan é investigado por tráfico de influência em favor da cervejaria Schincariol em troca da compra superfaturada de uma fábrica de refrigerantes de sua família. No entanto, até a oposição acredita que essa representação será arquivada. Assim, os esforços se concentram na pressão para que o parlamentar renuncie à presidência do Senado. A oposição e até integrantes da base governista esperam que opresidente Lula aconselhe Renan neste sentido no encontro que devem ter hoje.
O próprio relator da segunda denúncia, João Pedro (PT-AM), deu sinais de que deve recomendar o arquivamento e declarou não temer a opinião pública. "Se vai contrariar A ou B, faz parte do debate", afirmou. Muitos senadores lembram que a denúncia pode ser analisada pela Câmara dos Deputados, já que envolve o deputado Olavo Calheiros (PMDB-AL), irmão de Renan. "É uma representação de difícil comprovação. Não devemos ficar perdendo tempo com ela, que ficaria para análise da Câmara. Temos que concentrar nossa munição nas outras duas representações, que são mais consistentes", disse o senador Demóstenes Torres (DEM-GO).
Inconformismo
O DEM e o PSDB ainda não definiram a posição que terão durante a votação no Conselho de Ética. O inconformismo com o provável arquivamento fica por conta dos senadores do PSOL, autor da representação. "Não vamos aceitar o arquivamento sumário", disse o deputado Chico Alencar (RJ).
O presidente do Conselho de Ética, Leomar Quintanilha (PMDB-TO), disse que, se o relatório recomendar a perda de mandato, a votação deve ser fechada. "Vamos manter a coerência da decisão pelo voto secreto. É claro que, como da outra vez, cabe recurso", disse.
Renan também responde a uma terceira representação, em que é acusado de usar o nome de outras pessoas para comprar veículos de comunicação em Alagoas com dinheiro não-declarado. Esse processo ainda está sem relator. A quarta denúncia, sobre suposto esquema de desvio de dinheiro em ministérios comandados pelo PMDB, está parada há cerca de duas semanas, porque Renan não a enviou ao vice-presidente, Tião Viana (PT-AC), para que então a Mesa Diretora possa se reunir e enviá-la ao Conselho de Ética.
Pressão para licença ou férias de Calheiros
Renan Calheiros aguarda um sinal do Palácio do Planalto para se reunir hoje com Lula, que chega da Europa pela manhã. Será o primeiro encontro dos dois após a polêmica absolvição no Senado, quarta-feira. É pouco provável, porém, que o presidente atenda aos desejos de senadores pedindo a Renan que ele se licencie ou saia de férias. O interesse maior de Lula é tratar da articulação para aprovar a prorrogação da CPMF. Renan, por sua vez, está convicto de que não pode se afastar, mesmo que temporariamente, sob o risco de perder poder e até o cargo.
O senador Renato Casagrande (PSB-ES), um dos relatores do primeiro processo, defende o afastamento, apesar de não acreditar que isso vá ocorrer. No entanto, adverte que a permanência de Renan na presidência da Casa cria instabilidade para votações importantes, como a da CPMF. "Estamos parados há quase um mês. Isso não causa desânimo e frustração apenas na sociedade brasileira, mas diminui também a ação do Congresso para formar uma agenda positiva", disse Casagrande.
O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) propôs ontem uma campanha pela renúncia de Renan. "O Congresso está sufocado, e o Senado é dirigido por uma quadrilha. A corrupção tem um peso grande e um alto custo", afirmou Gabeira.
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