A nova novela da Globo, Duas Caras, de Aguinaldo Silva terá algumas inovações de formato. Segundo o autor, os capítulos deverão seguir a estrutura existente em seriados da TV americana.
"Os capítulos serão temáticos ou acontecerá o seguinte: a cada dois capítulos vou desenvolver a história de um núcleo. Isso vai atrair a atenção de telespectador. As pessoas reclamam que o índice de aparelhos de TV desligados é muito grande. Claro. Tem algo de errado com a TV. As novelas caíram na rotina. Isso é muito ruim. Eu mesmo já caí nessa armadilha da fórmula", diz o autor, referindo-se a sua série de novelas "com sotaque nordestino" (Tieta, Pedra Sobre Pedra, Fera Ferida, A Indomada).
Silva destaca que a experimentação, mesmo que não dê certo, é melhor que a fórmula. "Pode ser que esse novo formato não dê certo. É um risco, mas prometi a mim mesmo nunca mais cair na fórmula."
Ainda sobre as novas experiências na teledramaturgia, o autor destaca as novelas da Record, como Vidas Opostas e Caminhos do Coração, mas faz ressalvas.
"A novela do Marcílio (Moraes, de Vidas Opostas) eu vi, mas sem grandes apetites. Reconheço como um grande esforço, mas, ao fim, ela caiu no maniqueísmo. Acho muito ruim isso de mostrar o morro com um lugar de bandido. Morro é lugar de gente trabalhadora. Claro que ele mostrou as pessoas enfrentando os bandidos. Nem se compara a Cidade de Deus. Aquilo é uma coisa pavorosa."
Vilões, mocinhos e marketing social
Aguinaldo Silva tem como desafio "exorcizar" o sucesso da vilã Nazaré (Renata Sorrah), de Senhora do Destino, que fez mais sucesso que a heroína Maria do Carmo (Susana Vieira).
"Até nisso quero inovar. Vou começar com um grande vilão, que é o Dalton Vigh, o 'duas caras', que em determinado ponto da novela vai tentar se regenerar, mas vai se ver prisioneiro do próprio passado. Ele terá, inclusive, de passar pela cadeia, mas não posso adiantar mais sobre isso", conta.
Ele reconhece a dificuldade em se construir uma heroína plausível, mas diz que isso se deve um vício em colocar as mocinhas acima do mal. "Quando a pessoa assiste a novela, ela toma antipatia por esse ser que não erra nunca. Por isso os vilões são carismáticos. Eles odeiam e erram, como as pessoas comuns. Minha mocinha, a Marjorie Estiano, vai ser bem mais próxima da realidade das telespectadoras."
Sobre o marketing social, o autor mais uma vez critica o modelo consolidado. "Quando o departamento da emissora responsável pelo marketing social me pergunta se terá algo nesse sentido eu respondo que o que tenho são tramas. Dentro delas, se for possível desenvolver uma estratégia de conscientização acerca de algum tema, eu faço. O que não faço é parar uma história para ficar dando aula de cidadania."
|