Após 140 dias de crise, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), anunciou nesta quinta-feira, por meio de um pronunciamento gravado e transmitido pela TV Senado, seu afastamento da presidência da Casa. Calheiros foi alvo de cinco representações no Conselho de Ética do Senado por quebra de decoro parlamentar. A primeira denúncia foi publicada pela revista Veja em 25 de maio. Segundo a reportagem, Calheiros teria despesas pessoais pagas por um lobista.
Depois disso, o presidente licenciado do Senado foi acusado de beneficiar uma cervejaria, usar laranjas para adquirir veículos de comunicação, de montar um esquema de arrecadação de recursos em ministérios comandados pelo PMDB, e de mandar um assessor espionar colegas. Calheiros negou todas as deúncias.
Confira a cronologia da crise:
Lobista
Reportagem publicada pela revista Veja em 25 de maio denunciou que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), teria despesas pessoais pagas pelo lobista Cláudio Gontijo, da empreiteira Mendes Júnior. Os pagamentos foram feitos para a jornalista Mônica Veloso, com quem Calheiros tem uma filha de 3 anos.
O caso levou o Psol a entrar com uma representação no Conselho de Ética contra Calheiros, por quebra de decoro parlamentar. Os membros do conselho decidiram, por maioria, enviar o processo ao Plenário. Em sessão secreta realizada no dia 12 de setembro, os senadores decidiram arquivar o caso, com 40 votos pela absolvição do senador, 35 votos a favor da cassação e seis abstenções.
Schincariol
Em 7 de julho, a revista Veja levantou a acusação de que a empresa de bebidas Schincariol teria sido beneficiada por Calheiros, depois de comprar, por um valor acima do mercado, uma fábrica de bebidas do deputado Olavo Calheiros (PMDB-AL), irmão do senador. Após a conclusão do negócio, o presidente do Senado teria conseguido evitar a cobrança de uma dívida de R$ 100 milhões da Schincariol com o INSS e outra, também milionária, com a Receita Federal.
O assunto foi alvo de nova representação do Psol ao Conselho de Ética, que tem como relator o senador João Pedro (PT-AM).
Compra de rádios
O usineiro João Lyra, adversário político de Calheiros em Alagoas, confirmou em reportagem à Veja, no dia 4 de agosto, que manteve uma sociedade com o senador e que usou "laranjas" para comprar empresas de comunicação a pedido do parlamentar. Segundo a publicação, Lyra e Calheiros tinham uma sociedade montada para comprar uma emissora de rádio e um jornal em Alagoas, que mais tarde deu origem à JR Radiodifusão.
Calheiros teria investido R$ 1,3 milhão no negócio, parte paga em reais, parte em dólares. Os bens e a origem do dinheiro não teriam sido declarados à Receita Federal. A denúncia deu origem à terceira representação contra Calheiros no Conselho de Ética, impetrada pelo PSDB e pelo Democratas.
Para se defender, o senador rebateu as acusações de Lyra dizendo que as informações prestadas por ele são "um triste retrato da mentira e da hipocrisia". O presidente do Senado disse que só esteve com o usineiro nas eleições de 1986, em palanque.
O caso foi ao Conselho de Ética e será relatado pelo senador Jefferson Peres (PDT-AM).
Arrecadação de recursos
A revista Época publicou, em 1º de setembro, reportagem em que o advogado Bruno Miranda Ribeiro Brito Lins, afilhado de casamento de Calheiros, diz que seu ex-sogro teria montado um esquema de arrecadação de recursos em ministérios chefiados por indicados do PMDB, entre eles a Previdência Social e a Saúde, e que ele próprio teria buscado sacolas de dinheiro para o parlamentar.
No mesmo dia, Calheiros divulgou nota afirmando que as novas denúncias são "requentadas" e fruto de má-fé. O senador disse que o objetivo da denúncia seria causar escândalo, por se basear em depoimento de uma pessoa que estava em curso de uma "separação litigiosa".
O caso foi ao Conselho de Ética e será relatado por um peemedebista - o senador Almeida Lima (PMDB-SE).
Venda de gado
Em 21 de agosto de 2007, reportagem do Jornal Nacional informou que um laudo da perícia realizada pela Polícia Federal (PF) nos documentos de defesa de Calheiros (PMDB-AL), apontaria que o parlamentar não teria como comprovar algumas vendas de gado de suas fazendas em Alagoas, que teriam sido realizadas entre 2003 e 2006.
A PF teria apontado que algumas vendas não têm os guias de transportes de animais (GTAs), que comprovariam que o gado saiu da fazenda de Calheiros para um frigorífico, o que poderia significar que os animais foram transportados de maneira ilegal ou que a venda simplesmente não existiu.
Em depoimento ao Conselho de Ética, Calheiros teria dito que vendia o gado para diretamente para as empresas e o local da comercialização era o frigorífico Mafrial, o frigorífico do Estado. Em entrevista no dia 24 de julho, Calheiros deu uma outra versão, dizendo que não vendia gado para as empresas que aparecem nas notas fiscais emitidas por ele, e sim para o Mafrial.
Espionagem
Uma reportagem publicada pela revista Veja, apontou que o assessor especial da presidência do Senado, Francisco Escórcio, teria ido a Goiânia a mando de Calheiros para colocar câmeras em um hangar de aviões na cidade para espionar os senadores Marconi Perillo (PSDB-GO) e Demóstenes Torres (Democratas-GO), com a finalidade de chantageá-los. Calheiros negou a denúncia e afastou Escórcio do cargo de assessor especial da presidência do Senado.
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