A pedagogia da guerra

 

Opinião - 08/04/2003 - 16:00:05

 

A pedagogia da guerra

 

Leonardo Cavalcante (*) .

Foto(s): Divulgação / Arquivo

 

Mesmo em meio ao caos e a tanto sofrimento, ainda assim, é possível extrair alguma aprendizagem, absorver algum conhecimento. O que nos tem ensinado a guerra? não nos referimos tão somente a guerra atual - Coalizão X Iraque - mas a todas as guerras, aqui incluídas, a guerra contra a fome e a miséria, a guerra contra o narcotráfico, a guerra contra o analfabetismo, a guerra contra a corrupção, enfim, a todo tipo de conflito, quer seja ideológico, político, econômico, social ou bélico. O primeiro ensinamento que se pode absorver, embora quase visionário, é o de que, nós, seres humanos - único exemplar em toda cadeia vital dotado de arbítrio e, portanto, da capacidade de discernir entre o bem e o mal e agir sobre esta decisão - estivemos falhando ao longo dessa trajetória chamada “existência”; assim sendo, a cada dia aproxima-se a necessidade da renovação da espécie humana. Estamos fadados não ao desaparecimento, mas a um longo e eficaz processo de depuração. Se é verdade que no torvelinho da guerra ocorrem as grandes mudanças, pergunta-mo-nos, onde estão elas? Por acaso o homem tornou-se menos violento à medida que cessou sua exposição ao confronto? obviamente que não! este é portanto, o segundo ensinamento, todavia fatídico, mas sobretudo, real. É a ratificação de que o homem “no mais íntimo dos seus impulsos traz a violência como um constitutivo primordial”; e, é na guerra que esta intencionalidade latente se manifesta, a tal ponto de nos diferenciar dos demais animais, visto que a violência requer inteligência, requer intencionalidade, requer razão. Nós, somos violentos, as demais espécimes, são ferozes. A guerra nos ensina ainda que deve-mo-nos acostumar com o sofrimento, com o flagelo e com a carnificina humana. A televisão, ocupa-se em ressaltar as mazelas da população civil ao passo que contabiliza os soldados mortos apenas como “números”; como se alí não estivesse também um cidadão ou uma cidadã que, por força da profissão não pudera optar. É assim a pedagogia da guerra... muitos ensinamentos, poucas reflexões! Não obstante, a guerra aguça a lembrança e a esperança, ambas produtos exclusivos da mente humana. A lembrança traduzida no ensinamento de um antigo guerreiro chinês chamado Sun T Zu: “Há ordens do soberano que um general não deve cumprir”*, e a esperança embutida na poesia de Charles Chapplin em seu “Último Discurso” : “Soldados! vós sois homens, vós não sois máquinas!”** Quando a guerra passar, que fiquem pelo menos a lembrança e a esperança. (*Os treze momentos - Sun T Zu. ** O Último Discurso - Charles Chapplin) (*) Leonardo Cavalcante é pedagogo

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