O Partido do Movimento Democrático Brasileiro está dividido. O flerte com vistas às eleições presidenciais de 2010 vem tanto do PSDB quanto do PT. Orestes Quércia, contudo, não titubeia:
- Serra é amigo do PMDB.
Ex-governador de São Paulo, Orestes Quércia (PMDB) fala com exclusividade a Terra Magazine sobre as articulações do seu partido para as eleições presidenciais de 2010.
No governo em mais de 1200 prefeituras, 7 governos estaduais e com 6 ministros na administração federal, o PMDB pode ser o fiel da balança em uma chapa à presidência.
O partido preside a Câmara e o Senado. Para Quércia, a composição das Casas favorece uma candidatura peemedebista à vice-presidência. Com uma ressalva:
- Desde que ela (a candidatura presidencial) seja do Serra (PSDB).
Quércia fala abertamente sobre o apoio ao governador paulista e aponta um equívoco político do ministro da integração nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), que investe numa aliança PT-PMDB.
Do ponto de vista tático, segundo a análise do ex-governador, seria mais vantajoso que Geddel apoiasse Serra ao invés de uma candidatura governista. O ministro ambiciona ser governador da Bahia, onde o PT investe na reeleição de Jaques Wagner.
Homem forte dentro do partido, Quércia sabe que as negociações internas não serão fáceis. Reforça que o candidato do PMDB é Serra; do contrário, prevê:
- Cada estado vai para o lado que achar mais conveniente.
Leia a entrevista com Orestes Quércia:
No processo de eleições na Câmara e do Senado, não se evidenciaram divergências internas no PMDB? Isso prejudica uma articulação para 2010?
Na verdade, para nós que queremos apoiar o Serra, a articulação para 2010 começa agora. O PMDB está com uma articulação boa. Elegeu o presidente do Senado e da Câmara e nesse processo vencemos do candidato do PT. Existe uma ideia de que o partido irá apoiar um candidato do governo, mas eu acho que não. O meu partido apoia o governo. Diferente disto, precisamos fazer uma convenção nacional para decidir, com deputados, senadores e os delegados do partido. O meu sentimento é que, nessa convenção nacional tiremos a deliberação de apoiar o Serra. As possibilidades já existem, o Serra é amigo do PMDB, na sua candidatura à presidência já recebeu o nosso apoio. Então eu acho mais provável que dentro do PMDB consigamos ter acordo em apoiar o Serra. E, provavelmente com um candidato a vice-presidência do PMDB.
Então, o senhor discorda do Geddel (aliança PT-PMDB)?
Eu acho que para o próprio Geddel seria mais vantajoso apoiar o Serra do que apoiar uma candidatura do governo. Porque ele tem a possibilidade de ser o futuro governador da Bahia. Com o PT ele não será, porque o partido tem lá um candidato à reeleição para o governo da Bahia. Eu acredito muito na possibilidade do Geddel ser governador. É uma liderança que está despontando na região. O PMDB da Bahia gosta do Serra, o partido do Geddel. Isso acontece na maioria dos estados do Brasil. Existe uma possibilidade grande de revertermos esses apoios ao PT para o apoio à candidatura do Serra.
Dentro do partido, quem são as pessoas certas para articular a aliança com o PSDB?
O Jarbas Vasconcelos, líder do PMDB em Pernambuco, é um exemplo. Temos muitas possibilidades.
O senhor não acredita na possibilidade de o governador Aécio ser o candidato?
Ele tem muita força política, mas acredito que a candidatura do Serra é mais natural dentro do PSDB. Ele já foi candidato uma vez, é governador de São Paulo, está bem nas pesquisas. Enfim, está numa situação política melhor que o Aécio, embora o Aécio seja uma liderança política muito importante. O fato é que as possibilidades tornam a escolha óbvia pelo Serra.
Como o senhor vai dialogar com a ala do partido que é a favor da aliança com o PT (Temer, Sarney) para que o PMDB chegue unido nas eleições presidenciais de 2010? Como trabalhar para que o PMDB não vá dividido para mais uma eleição presidencial?
Eu acredito que devemos fazer um esforço grande para o PMDB apoiar o Serra e se unir em torno dessa candidatura. Espero que isso aconteça para não fracionarmos o partido.
Se parte do partido insistir no apoio a um nome do governo, o PMDB se unirá? Ou só haverá união em torno do nome do Serra?
O partido pode ter um candidato. Mas cada estado vai para o lado que achar mais conveniente. O ideal é que houvesse uma definição de candidatura.
Com o Serra, o PMDB apresentaria um candidato à vice?
Isto seria o ideal. O Geddel, por exemplo, seria um bom nome. Embora eu acredite que ele prefira ser governador da Bahia.
A composição das mesas favorece uma candidatura própria para 2010?
Claro. Para presidente, eu acho difícil que o PMDB se una em torno de uma candidatura. A vice-presidência eu acho possível. No nosso caso, que apoiamos o Serra, acreditamos que é possível e gostaríamos que isto estivesse na candidatura do PSDB, desde que ela seja do Serra.